O presidente da Argentina, Javier Milei, se manifestou nesta segunda-feira, 17, negando qualquer envolvimento no escândalo de fraude ao que se refere a divulgação da criptomoeda $LIBRA. Durante uma entrevista ao canal argentino TN, Milei foi questionado sobre o fato de 44 mil pessoas terem adquirido o ativo após sua recomendação. Ele contestou essa cifra, indicando que “havia muitos bots” entre os usuários e que, no máximo, cinco mil pessoas, predominantemente de origem chinesa e americana, estariam envolvidas no esquema.
Milei argumentou que sua intenção não foi promover, mas “espalhar” o ativo, explicando que considerava a criptomoeda uma ferramenta potencialmente benéfica para pessoas que normalmente não teriam acesso ao crédito. Recentemente, o presidente havia promovido a criptomoeda em sua conta na plataforma X (anteriormente conhecida como Twitter), apresentando-a como um “projeto privado” destinado a “impulsionar o crescimento da economia argentina, financiando pequenas empresas e empreendimentos”. Após a divulgação de Milei, o valor da criptomoeda disparou, chegando a aproximadamente US$ 4.978 (cerca de R$ 28.512). À medida que o ativo se valorizava rapidamente, investidores iniciais começaram a vender suas participações, originando a controvérsia.
Após a repercussão, Milei excluiu a publicação e, em um novo post, afirmou que não tinha pleno conhecimento dos detalhes do projeto antes de fazê-lo, decidindo então não continuar promovendo a criptomoeda. Esse tipo de prática é comumente denominado “rug pull”, que consiste em levantar ativos, anunciar um token como a $LIBRA e encerrar o projeto de maneira repentina, o que pode resultar em prejuízos para os investidores. Durante a entrevista, ele garantiu que não recebeu compensação financeira pela promoção da criptomoeda na rede social, comentando que sua intenção de ajudar os cidadãos argentinos acabou resultando em um “tapa”.
Em uma autocrítica, Milei indicou que deveria “levantar os filtros” para facilitar o acesso à sua pessoa pública, buscando evitar que situações semelhantes se repetissem. Ao abordar o escândalo, ele referiu-se à sua visão de “tecno-otimista” ao divulgar a criptomoeda. O presidente expôs que, considerando as limitações do mercado de crédito para aqueles no setor informal, a proposta de criar um instrumento para financiar projetos argentinos lhe pareceu promissora.
Além disso, Milei expressou “sérias dúvidas” sobre as perdas financeiras que os argentinos teriam enfrentado, citando que, se houvesse alguma ocorrência, seriam “não mais do que cinco” pessoas. Ele traçou uma analogia com apostas em cassinos, questionando a validade das reclamações de quem perde dinheiro nessas circunstâncias, já que se tratam de decisões voluntárias. Segundo Milei, o envolvimento é uma questão entre particulares, sem o papel do Estado.
A entrevista, que pretendia acalmar a população, gerou uma nova controvérsia ao vazar um vídeo que mostrava a participação do assessor principal de Milei, Santiago Caputo, nas perguntas feitas pelo jornalista. Este questionou o presidente, ressaltando que, apesar de sua afirmação de ter recomendado a criptomoeda como cidadão, Milei ocupa um cargo público. Em resposta, Milei se esquivou de abordar questões jurídicas diretamente, sugerindo que o entendimento do assunto era atribuição do ministro da Justiça.
O repórter continuou a pressionar Milei sobre a sequência de estratégias jurídicas a serem adotadas, enquanto o presidente reafirmou que competia ao seu ministro decidir sobre a abordagem legal. A interação se intensificou, levando Caputo a intervir e solicitar que o questionamento fosse refeito, numa tentativa de evitar confusões judiciais, especialmente considerando a iminente solicitação de impeachment contra Milei apresentada pela oposição. A conversa prosseguiu, mudando de tom em meio à tensão entre os participantes.