Reclamações relacionadas a pagamentos de uma condenação judicial em disputa com a deputada federal Maria do Rosário, além de multas de trânsito por não utilização de capacete em motociatas e despesas com mudanças e transporte de um acervo, foram mencionadas por Mauro Cid em sua delação premiada. Segundo ele, esses fatores teriam levado o ex-presidente Jair Bolsonaro a determinar a venda de presentes de alto valor recebidos durante uma viagem oficial à Arábia Saudita em 2019.
A oitiva da Polícia Federal, que investiga a possível irregularidade de bens entregues a Bolsonaro por autoridades estrangeiras, ocorreu em 28 de agosto de 2023. O conteúdo da delação de Cid, que se desdobra em um total de quatro volumes, teve o sigilo revogado recentemente pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, logo após o procurador-geral da República apresentar denúncias contra Bolsonaro e mais 33 aliados.
No depoimento, Cid relatou que Bolsonaro recebeu um conjunto de joias em ouro branco e um relógio Rolex em 2019, que foram encaminhados ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica do Palácio do Planalto. De acordo com Cid, ficou estabelecido que esses itens deveriam ser inseridos no acervo privado do ex-presidente, assim como a maioria dos presentes recebidos.
Cid também mencionou que, no final de 2021, Bolsonaro lhe apresentou um relógio Patek Philippe, pedindo que realizasse uma pesquisa sobre seu valor. Este relógio também tinha sido um presente recebido durante viagens a países do Oriente Médio. O tenente-coronel relatou que efetuou a busca e enviou a imagem do item ao então presidente.
Na sequência, em relato de início de 2022, Cid afirmou que Bolsonaro estava insatisfeito com os pagamentos de uma condenação judicial em litigação envolvendo a deputada Maria do Rosário, além das despesas relacionadas às mudanças e ao transporte do acervo que lhe cabia. Diante dessa situação, Bolsonaro teria questionado a Cid sobre quais presentes de alto valor havia recebido em virtude de seu cargo. Cid então decidiu verificar quais itens teriam um valor mais facilmente mensurável, focando nos relógios, e solicitou ao Gabinete Adjunto de Documentação Histórica a lista de presentes recebidos.
Após essa consulta, Cid informou a Bolsonaro que o relógio que poderia ser vendido mais rapidamente era o Rolex de ouro branco. O ex-presidente questionou se o item poderia ser comercializado e autorizou que Cid levantasse informações sobre o preço e viabilizasse a venda, assim como a de outros itens do conjunto recebido da Arábia Saudita.
Cid detalhou posteriormente todo o processo de cotação e venda dos itens, realizada em uma loja nos Estados Unidos, resultando em um valor de 68.000 dólares. Ele afirmou que apenas ele e Bolsonaro estavam cientes da transação naquele momento. O pagamento referente à venda foi direcionado à conta de seu pai, general Mauro Cezar Lourena Cid, que residia em Miami devido ao seu trabalho na ApexBrasil. Adicionalmente, Cid vendeu outras joias do kit em ouro branco por 18.000 dólares, entregues pessoalmente a Bolsonaro no Brasil em junho de 2022.