O presidente reeleito do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Beto Simonetti, declarou em entrevista que a advocacia demonstrou resistência em aceitar que a política interfira nas atividades da entidade. Ele salientou que tanto políticos da direita quanto da esquerda já reconheceram que a OAB não será influenciada por nenhum dos lados políticos. Simonetti enfatizou que, com base nas experiências das últimas eleições, a advocacia percebeu que a aproximação com a política pode ser prejudicial.
Nas recentes eleições das seccionais da OAB no Brasil, houve candidaturas que receberam apoio de políticos, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro, que incentivou os advogados a não votarem em “candidatos da esquerda”. Durante sua presidência, Bolsonaro teve desentendimentos públicos com Felipe Santa Cruz, ex-presidente da OAB, que teve sua família afetada pela ditadura militar. Parlamentares também realizaram campanhas para apoiar candidatos que se alinhassem a suas agendas político-ideológicas. Simonetti reconheceu que a OAB reflete o ambiente político do país, mas assegurou que várias campanhas apoiadas por políticos importantes foram derrotadas.
Simonetti reafirmou que a Ordem continuará a defender o estado de direito, a democracia e a Constituição, comprometendo-se a manter uma posição neutra em questões ideológicas. Ele destacou que esse compromisso tem possibilitado à OAB focar nas questões corporativas que a envolvem.
Com sua recondução para um novo triênio, Simonetti obteve o apoio unânime dos 81 conselheiros federais, que representam os estados da Federação de maneira semelhante ao Senado Federal. No entanto, há críticas sobre o sistema de eleição indireta do presidente do Conselho Federal, sendo que seccionais como a de São Paulo defendem a mudança para um processo de votação direta, em que todos os advogados em dia com a Ordem possam participar.
Simonetti comentou que o Conselho Federal já rejeitou duas propostas de eleições diretas no passado, mas ele está aberto a discutir isso novamente. Ele alertou que a ideia de “democratizar” o processo de eleição pode trazer riscos, como permitir que candidaturas inadequadas sejam selecionadas num pleito com mais de 1 milhão de advogados.
Além disso, ele observou que, para manter o pacto federativo, as seccionais menores se opõem à proposta de eleição nacional, temendo que isso limitem a representação de seus estados no Conselho Federal. Simonetti mencionou que há um novo movimento por parte de São Paulo para reexaminar essa questão, mas reafirmou que qualquer discussão sobre o processo eleitoral deve ocorrer dentro da OAB e não ser conduzida por interesses políticos externos.