Um dos economistas mais renomados da história expressou de forma clara a complexidade associada à superação de velhos paradigmas. John Maynard Keynes observou que “a verdadeira dificuldade não está em aceitar ideias novas, mas em escapar das antigas”. À medida que o governo Lula se aproxima da metade de seu atual mandato, ele enfrenta esse dilema. Desde a sua primeira passagem pelo Palácio do Planalto, há mais de vinte anos, o mundo passou por transformações significativas. Contudo, a abordagem do presidente parece permanecer ancorada em estratégias do passado, abordando questões contemporâneas com soluções antiquadas. Recentemente, Lula exemplificou essa tendência em eventos distintos.
No dia 24, em um esforço para revitalizar a indústria naval brasileira, o presidente participou da formalização de um contrato da Transpetro, uma subsidiária da Petrobras, no valor total de cerca de 1,6 bilhão de reais para a aquisição de quatro navios. A Transpetro foi uma das instituições envolvidas em escândalos relacionados à operação Lava-Jato, onde seu ex-dirigente, Sérgio Machado, admitiu ter realizado pagamentos de propina a mais de vinte políticos. A transação com a Transpetro faz parte de um projeto abrangente de investimentos de 45 bilhões de reais. Estaleiros implicados nas investigações da Lava-Jato também devem retornar, uma repetição de erros do passado.
No campo econômico, Lula ainda acredita que a melhor estratégia consiste em aumentar os investimentos públicos e estimular o consumo. No entanto, essa abordagem já começa a impactar a economia dos brasileiros, intensificando a inflação dos alimentos. Fatores externos, como mudanças climáticas e safras ruins, assim como a alta do dólar, têm contribuído para os preços elevados. A valorização da moeda americana encarece a produção e incentiva a exportação de alimentos, reduzindo a oferta interna e, consequentemente, elevando os preços. A alta do dólar é ocasionada tanto por fatores internos, como a crise de confiança no governo e o desequilíbrio financeiro, quanto por influências externas.
Diante da gravidade da conjuntura econômica, seria razoável esperar alguma revisão de estratégias. No entanto, o que tem sido observado são respostas simplistas por parte do presidente, que busca transferir a responsabilidade pelas dificuldades a terceiros. Quando questionado sobre o aumento significativo nos preços dos ovos, Lula respondeu que convocaria uma reunião com os atacadistas. O presidente frequentemente atribui a culpa pela crise econômica a forças de mercado, que ele caracteriza como interesses que atuam em detrimento do país. Além disso, demonstra ceticismo em relação às previsões econômicas realistas, desconsiderando a deterioração de sua popularidade nas pesquisas como um sinal de alerta para a necessidade de mudanças. O Brasil enfrenta um momento crítico, exigindo um reconhecimento da realidade e a superação de velhos paradigmas.