O Carnaval é reconhecido como uma das principais celebrações da democracia no Brasil, caracterizado por ruas repletas de pessoas, expressões de liberdade e uma atmosfera de alegria. Contudo, sob a camada de festividades, surge uma realidade preocupante, especialmente para as mulheres: o temor do assédio. A experiência festiva é frequentemente acompanhada pela preocupação de que a alegria possa se transformar em um pesadelo.
Uma pesquisa realizada por uma instituição dedicada ao tema revela que uma significativa parcela das mulheres brasileiras, cerca de 45%, já vivenciou situações de assédio durante o Carnaval. Isso corresponde a aproximadamente 38 milhões de mulheres que, ao invés de desfrutarem do samba, se vêem obrigadas a lidar com abordagens indesejadas e toques invasivos. A insegurança nesse contexto é alarmante, uma vez que 80% das mulheres sentem medo de serem assediadas durante as festividades. Essa realidade evidencia um problema grave que permeia a celebração.
Ainda existe uma cultura entre alguns homens que perpetua a confusão entre fantasia e realidade, sustentando a ideia equivocada de que “ninguém é de ninguém” ou que a vestimenta de uma mulher é um convite implícito. Essa perspectiva é completamente errônea. A crença de que uma mulher sozinha ou com roupas mais curtas está disponível é comparável à suposição de que qualquer um que entra em uma padaria está automaticamente interessado em comprar pão.
Além disso, o desafio está relacionado não apenas ao comportamento individual, mas também à manutenção de crenças ultrapassadas e prejudiciais. Aproximadamente 27% da população masculina ainda acredita que mulheres que pulam Carnaval sozinhas estão em busca de companhia romântica. Mais alarmante é o fato de que 16% dos homens admitiram não ver problema em roubar um beijo de uma mulher que está bêbada e com vestimenta inadequada. Essa lógica distorcida é análoga a justificar um roubo considerando que a vítima exponha seus bens.
Para evitar o assédio, muitas mulheres acabam utilizando estratégias de defesa que comprometem a liberdade que o Carnaval deveria proporcionar. Elas recorrem a rotas alternativas, formam grupos grandes e restringem seus horários — tudo para escapar de comportamentos que não deveriam existir em uma sociedade civilizada. Transferir a responsabilidade do assédio para a vítima é semelhante a culpar um pedestre por um atropelamento em uma faixa de segurança.
O respeito deve ser uma norma perene, independentemente do contexto, e o “não” deve ser sempre ouvido e respeitado. Para que o Carnaval continue a ser um patrimônio cultural genuíno e democrático, é necessário que haja um comprometimento coletivo para além da superficialidade das fantasias e das músicas. A sociedade, especialmente os homens, deve assumir um papel ativo no combate ao assédio, abandonando discursos vazios e promovendo mudanças efetivas nas atitudes.
Neste Carnaval, é essencial celebrar a liberdade com fantasias, música e dança, mas, acima de tudo, lembrar que o respeito deve ser uma prioridade. Sem ele, qualquer celebração torna-se apenas uma festividade incompleta.