Enquanto o setor alimentício busca alternativas com menor impacto de carbono, a empresa Brown Foods, com sede em Boston, está se preparando para lançar o UnReal Milk, o primeiro leite integral de vaca cultivado em laboratório, que será produzido sem a utilização de vacas.
Conforme os fundadores da Brown Foods, o UnReal Milk é obtido por meio do cultivo de células mamíferas, o que proporciona nutrição, sabor e textura semelhantes ao leite convencional. Este produto poderá ser utilizado para a fabricação de manteiga, queijo e sorvete, representando uma alternativa com menor emissão de carbono. A empresa afirma que seu método de produção consegue reduzir as emissões em até 82%, o uso de água em 90% e a ocupação de terras em 95%, sem depender da agricultura pecuária tradicional.
A startup considera sua tecnologia uma solução para enfrentar os desafios históricos da indústria de laticínios. Em declarações, um dos cofundadores ressalta que a produção leiteira é responsável por uma significativa parcela das emissões globais de metano, além de enfrentar problemas como fraudes na cadeia de suprimentos e a dependência de condições climáticas ideais para a produção. O UnReal Milk tem como objetivo oferecer uma alternativa escalável, livre de componentes animais e sustentável, utilizando inovação tecnológica para criar uma solução mais segura e controlável no setor lácteo.
A equipe da Brown Foods levou três anos para desenvolver o produto, tempo considerado relativamente curto em comparação com outras startups que trabalham na mesma área. A startup conseguiu levantar cerca de 2,36 milhões de dólares em fundos iniciais de investidores, e, atualmente, está avançando para a fase de comercialização, atuando tanto nos Estados Unidos quanto na Índia.
A primeira versão do UnReal Milk está passando por testes laboratoriais de validação, e análises independentes confirmaram que ela contém todas as proteínas necessárias, além de ser estruturalmente idêntica ao leite convencional. A empresa também verificou que o produto possui as mesmas gorduras presentes no leite, principalmente triglicerídeos, assim como os carboidratos encontrados nos laticínios tradicionais.
Recentemente, foi destacado o significado deste avanço científico e tecnológico, refletindo a importância das inovações no setor de laticínios, que se mostram relevantes no contexto atual de desafios globais. Problemas como as emissões de gases do efeito estufa, desmatamento e escassez de água estão impulsionando inovações em alimentos, incluindo proteínas de origem vegetal, fermentação de precisão e desenvolvimento de produtos cultivados em laboratório.
No setor de cultivo em laboratório, a carne foi o foco principal, atraindo dois bilhões de dólares em investimentos em 2022. Contudo, as alternativas lácteas cultivadas estão começando a ganhar destaque. Segundo projeções, o mercado global de alternativas para laticínios deve crescer significativamente nos próximos anos, com alguns especialistas prevendo que os laticínios sem origem animal podem capturar uma parte considerável do mercado atual.
O investimento na indústria de laticínios cultivados está crescendo rapidamente, com fundos de capital de risco reportando retornos positivos. Empresas como a Remilk e a Perfect Day estão explorando a fermentação de precisão para criar proteínas semelhantes às do leite, apresentando uma alternativa viável à produção tradicional de laticínios.
Entretanto, ainda existem desafios a serem enfrentados. Recentemente, a Federação Nacional dos Produtores de Leite dos EUA solicitou à FDA que proíba o uso do termo “leite” para produtos de fermentação de precisão, refletindo preocupações regulatórias. Além disso, a aceitação do consumidor em relação a esses novos produtos permanece incerta.
Diferente da fermentação de precisão, que se concentra em componentes específicos do leite, o UnReal Milk é desenvolvido a partir do cultivo de células mamárias, garantindo uma composição completa do leite. Isso permite que o produto seja transformado em diversos derivados lácteos sem a necessidade de aditivos ou reestruturação, aproximando-se mais do leite tradicional em termos de características.
O método utilizado pela Brown Foods também é visto como uma solução para a produção em larga escala de leite de maneira sustentável e eficiente. O uso de biorreatores pode ampliar a capacidade de produção do UnReal Milk, adequando-se à demanda global por laticínios, sem depender da pecuária convencional.
Além disso, a startup planeja expandir suas capacidades de produção, garantindo que o leite possa ser produzido em qualquer lugar do mundo, independentemente das condições climáticas. Iniciativas semelhantes estão sendo promovidas por outras startups na Europa e Israel, explorando diferentes abordagens na busca por alternativas aos produtos lácteos convencionais.
A Brown Foods não visa apenas replicar laticínios, mas recriá-los em nível molecular. Com testes de sabor programados para 2025 e um lançamento de mercado em 2026, os desenvolvimentos da empresa estão sendo observados enquanto a indústria alimentícia busca alternativas aos laticínios tradicionais. O cofundador da empresa menciona que a tecnologia pode ser adaptada para a produção de leite de diferentes espécies mamíferas, incluindo o leite humano, ampliando assim as possibilidades da inovação alimentar. Os avanços nessa área têm o potencial de contribuir para a segurança alimentar em situações de crise, em ambientes adversos e até mesmo em contextos como viagens espaciais.