O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comentou em uma entrevista na noite de quarta-feira, 22, que Joe Biden cometeu um erro ao não ter se perdoado antes de deixar a presidência no início da semana. Embora não tenha feito essa afirmação de forma direta, seu comentário sugere uma forma de ameaça. O democrata, antes de deixar o cargo, concedeu uma série de indultos “preventivos” para evitar que a nova administração buscasse processar críticos e opositores, enquanto ele continua em uma posição vulnerável.
“Esse cara andou por aí perdoando todo mundo. E o curioso, ou talvez triste, é que ele não se perdoou. Se você analisar, tudo gira em torno dele”, declarou Trump durante a conversa com Hannity, após sua primeira entrevista desde a posse na segunda-feira, 20. O “tudo” mencionado por Trump parece se referir ao que ele considera ser uma perseguição por parte do governo anterior.
A observação surgiu quando Trump ressaltou que teve a possibilidade de se perdoar em 2021, ao sair da Casa Branca em meio a polêmicas, incluindo a incitação da invasão do Capitólio por seus apoiadores, mas optou por não fazê-lo por acreditar que não incorreu em erro algum.
Na entrevista, Trump também comentou que seu antecessor recebeu “conselhos muito ruins”. “Joe Biden tem conselheiros bem inadequados. Alguém sugeriu a ele que desse perdões a todos, exceto a si mesmo”, relatou. Além disso, Trump mencionou que poderia reter auxílio à Califórnia até que o estado revise sua maneira de gerenciar os recursos hídricos limitados. Ele fez alegações falsas de que os esforços de conservação da região norte da Califórnia estariam causando a falta de água em hidrantes de incêndio em áreas urbanas.
“Não acredito que devemos fornecer nada à Califórnia até que eles lidem com a escassez de água”, afirmou Trump a Hannity.
Nos momentos finais de seu mandato, Biden concedeu uma série de indultos presidenciais que beneficiaram seus irmãos, James e Frank, sua irmã, Valerie, e os cônjuges de seus familiares, além de críticos de Trump. Essa ação ocorreu pouco antes da posse de seu opositor, que havia prometido “vingança” contra seus inimigos ao longo da campanha. “Minha família foi alvo de ataques e ameaças constantes, motivadas apenas pelo desejo de me prejudicar — o pior tipo de política. Infelizmente, não tenho motivos para acreditar que esses ataques cessarão”, disse Biden em uma declaração.
Ele também expressou sua crença “no Estado de Direito” e se mostrou “otimista de que nossas instituições legais prevalecerão sobre a política”. Entretanto, ressaltou que “investigações infundadas e politicamente motivadas podem devastar as vidas, a segurança física e a estabilidade financeira de indivíduos e suas famílias. Mesmo quando não cometeram erros e serão exonerados, o fato de estarem sendo investigados ou processados pode prejudicar irremediavelmente suas reputações e finanças”.
Esse comunicado de última hora ocorreu depois que o presidente perdoou seu filho, Hunter Biden, no mês passado, por porte ilegal de arma e sonegação de impostos — uma decisão que ele havia prometido não tomar anteriormente e pela qual enfrentou críticas de republicanos e democratas. Na mesma segunda-feira, Biden concedeu indultos ao general Mark Milley, que serviu como presidente do Estado-Maior Conjunto durante o primeiro mandato de Trump e o chamou de “fascista”; a Anthony Fauci, que se tornou alvo da direita ao liderar a resposta dos EUA à pandemia de covid-19; à ex-deputada republicana Liz Cheney, que foi alvo de retaliação por parte de Trump; e a membros e testemunhas de um comitê do Congresso que investigou a invasão ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.
Em sua declaração, o ex-presidente afirmou que essas pessoas “não deveriam ser alvo de processos injustificados e motivados politicamente”.