15 abril 2025
HomeNegóciosA Apple Revela a Hipocrisia das Tarifas de Trump

A Apple Revela a Hipocrisia das Tarifas de Trump

Após mais um fim de semana de anúncios e reviravoltas na política tarifária do presidente dos Estados Unidos, a indústria de tecnologia americana revisitou suas planilhas de custos nesta segunda-feira, buscando se adequar às novas normas globais de comércio e investimento impostas pelas tarifas de Trump. A exigência central desse cenário é a transferência da cadeia de suprimentos do continente asiático para os Estados Unidos, algo que muitos consideram não apenas financeiramente inviável, mas também logisticamente desfuncional.

Um exemplo notável dessa pressão é a Apple, que tem enfrentado desafios ao tentar retornar sua produção, inicialmente instalada na Ásia, para os EUA. A Apple, uma das pioneiras na globalização ao transferir a maior parte de sua produção para a China em 2005, viu suas margens de lucro crescerem consideravelmente, seguindo uma tendência que foi adotada por várias multinacionais.

Nos primórdios dos anos 2000, as margens brutas anuais da Apple eram em torno de 20%, época em que a empresa ainda era predominante no setor de computadores fabricados na Califórnia e na Irlanda. Com o avanço da década e o lançamento do iPhone em 2007, essas margens dobraram para 40%, evidenciando a eficácia de sua estratégia.

A capacidade da Apple de maximizar seus lucros não se restringiu apenas à redução de custos por meio da mão de obra mais barata. Ao longo de duas décadas, a companhia estabeleceu uma vasta e complexa cadeia de suprimentos na China, que abrange mais de 1.000 fornecedores no país. Atualmente, mais de 80% dos produtos da Apple são fabricados na China, beneficiando-se da eficiência e escala que esse sistema proporcionou, permitindo que a empresa obtenha uma participação significativa nos lucros do mercado global de smartphones, embora sua participação em remessas de dispositivos seja inferior a 20%.

Nos últimos anos, a Apple começou a transferir parte de sua produção de iPhones para o Vietnã e a Índia devido ao aumento dos custos na China, envolvendo aproximadamente 1 milhão de trabalhadores em sua cadeia de suprimentos asiática. Em 2022, as vendas da Apple atingiram 233 milhões de iPhones, representando uma parte significativa dos US$ 300 bilhões gerados por produtos fabricados no exterior.

Entretanto, a dependência da Apple da cadeia de suprimentos asiática, principalmente da China, que enfrenta tarifas elevadas, afetou negativamente seu desempenho no mercado financeiro. As ações da empresa sofreram uma queda de 12% após o anúncio das novas tarifas.

Na sexta-feira, 11 de abril, o Departamento de Alfândega dos EUA anunciou uma isenção temporária de tarifas para produtos eletrônicos importados da China, mas essa isenção foi anunciada como de possível curta duração, levando o secretário de Comércio a esclarecer que os produtos ainda sujeitam-se a tarifas anteriores, o que deixou uma incerteza no ar.

Embora a Apple esteja avaliando a possibilidade de transferir parte de sua produção para o território americano, tal mudança pode levar anos e se refletiria em um retrocesso significativo na estratégia atual da empresa. Estimativas indicam que os custos de mão de obra nos EUA são consideravelmente mais altos, além do setor manufatureiro ter se tornado altamente automatizado. Embora o PIB da manufatura esteja crescendo, o número de empregos na indústria permanece praticamente estável.

Adicionalmente, o aumento da manufatura tem ocorrido em setores que demandam tecnologia avançada e mão de obra qualificada, enquanto as operações intensivas em mão de obra que Trump deseja ver retornando para os EUA ainda são mais lucrativas quando realizadas em outros países.

Especialistas estimam que a Apple precisaria investir cerca de US$ 30 bilhões em três anos para apenas 10% de sua cadeia de suprimentos retornar aos Estados Unidos, evidenciando a dificuldade dessa mudança.

Nos últimos 15 anos, as exportações chinesas de produtos eletrônicos superaram as de todos os outros países combinados, com a China representando mais de 65% das exportações globais de laptops e tablets em 2023. Além disso, esse país é um líder na fabricação e exportação de componentes eletrônicos, sendo responsável por uma parte significativa das exportações globais de insumos intermediários.

A realidade atual demonstra que as principais empresas de tecnologia dos EUA permanecem amplamente dependentes da infraestrutura de manufatura da China, que se caracteriza por sua eficiência e integração profunda. A possibilidade de uma mudança rápida na logística e no fornecimento seria custosa e complexa, o que reflete a dificuldade de diversificação desse setor.

NOTÍCIAS RELACIONADAS
- Publicidade -

NOTÍCIAS MAIS LIDAS

error: Conteúdo protegido !!