No dia 13 de abril de 2005, Grafite, jogador do São Paulo na época, foi alvo de ofensas racistas durante um jogo da Libertadores. O argentino Leandro Desábato dirigiu insultos ao brasileiro em meio a uma partida contra o Quilmes. Quase 20 anos depois, o jogador do sub-20 do Palmeiras, Luighi Hanri, também sofreu ataques racistas por parte do público durante uma partida na mesma competição, desta vez contra o Cerro Porteño, no Paraguai. Apesar de se esperar uma evolução na forma como a sociedade lida com o racismo, a situação permanece preocupante, especialmente com a falta de ações decisivas por parte do presidente da Conmebol, levando o jovem atleta a questionar: “Até quando?”
Episódios de racismo, como o enfrentado pelos jogadores do sub-20 do Palmeiras, têm um impacto significativo na vida dos atletas. A experiência em campo revela que, no momento em que ocorrem ofensas, o jogador perde o foco e a capacidade de raciocínio, priorizando as emoções de raiva e impotência. Quando um atleta é julgado pela cor de sua pele em vez de seu desempenho, é difícil manter a concentração e resiliência. Nesse caso particular, Luighi estava se retirando do jogo e não conseguiu mais se concentrar nas ações em campo, o que poderia prejudicar seu desempenho.
Grafite compartilha sua experiência ao lidar com racismo como jogador em 2005, apontando que foi expulso da partida em que foi ofendido. Ele descreve como a situação o afetou profundamente, especialmente por se tratar de um momento em que as reações a ofensas racistas ainda eram limitadas. Embora tenha recebido apoio, também enfrentou críticas, o que dificultou ainda mais lidar com a situação. Grafite observa que, apesar de hoje existir uma legislação que considera a ofensa racial um crime, as punições efetivas são raras. Citando o caso de Vinícius Júnior na Espanha, ele observa que muitos dos infratores continuam livres, reforçando a sensação de impunidade.
Em relação aos avanços em torno do combate ao racismo, Grafite avalia que as melhorias têm sido mínimas. Ele nota que, apesar da legislação, muitos casos acabam não sendo devidamente investigados ou punidos. O racismo é algo que afeta tanto figuras públicas quanto anônimas, e a falta de ação robusta contribui para a perpetuação do problema. Grafite destaca a necessidade de punições adequadas e de uma abordagem preventiva para reduzir a frequência de ocorrências racistas. A indignação tende a diminuir com o tempo, e muitos casos acabam caindo no esquecimento, mesmo quando crimes estão claramente sendo cometidos.
Luighi, ao denunciar os incidentes racistas, enfrenta o desafio de se opor a uma estrutura que frequentemente não responsabiliza os ofensores. Grafite sugere que atletas como Luighi e Vinícius Júnior devem continuar a denunciar e buscar justiça. Ele compartilha seu arrependimento por não ter perseguido sua própria denúncia em 2005, ressaltando que, embora haja apoio inicial após um incidente, essa solidariedade pode diminuir com o tempo. A luta contra o racismo pode se tornar isoladora, especialmente quando há retaliações a serem enfrentadas por parte de familiares e amigos.
Por fim, é importante considerar como a visibilidade e o posicionamento de atletas afetam suas carreiras. Mesmo quando os atletas se pronunciam sobre situações de injustiça, as pressões tanto em campo quanto fora dele podem levar a complicações em suas performances. A falta de conhecimento sobre como agir em tais situações, juntamente com o medo de retaliações de dirigentes e torcedores, torna a defesa contra o racismo um desafio constante no ambiente esportivo.