Uma trégua de dez dias entre o governo federal e o Congresso foi estabelecida devido à crise gerada pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Parlamentares aliados aproveitaram o “recesso parlamentar” previsto para a próxima semana como uma estratégia para evitar a imediata derrubada do decreto que institui o aumento, embora o impasse continue sem solução.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, continua a explorar negociações para compensar uma possível arrecadação adicional de até R$ 20 bilhões neste ano com o aumento do IOF. Atualmente, não está claro se o governo optará por manter parte do decreto até o final do ano ou se decidirá pela revogação imediata. Haddad alertou que a ausência do decreto pode levar à paralisação da máquina pública.
Na quinta-feira, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, fez uma comparação entre a derrubada do decreto e os recursos necessários para financiar o programa Minha Casa, Minha Vida, que demanda R$ 12 bilhões, além de investimentos do Ministério da Fazenda, somando R$ 8 bilhões. Ceron destacou que a margem para absorver essa perda de receita é extremamente complicada, a menos que uma alternativa viável seja encontrada.
Dentre as alternativas em consideração por Haddad estão a suspensão de benefícios fiscais para setores ainda não especificados, resgates de fundos garantidores, a taxação de apostas e criptomoedas, além de uma reforma administrativa com efeitos a médio e longo prazo. Contudo, até o momento, os ganhos fiscais dessas medidas não parecem compensar a perda imediata que o decreto poderia trazer.
Os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, respectivamente, deixaram claro que o Congresso deve derrubar o decreto se o governo mantiver sua posição. A combinação de pressões políticas e econômicas pela revogação gerou uma crise aberta desde o dia 22 de maio. Um integrante da Fazenda comentou sobre a preocupação com o desenrolar da situação, mencionando a dificuldade em conseguir um consenso.
Atualmente, Haddad enfrenta o desafio de que um novo recuo em sua posição poderia prejudicá ainda mais sua imagem frente ao mercado, ao Congresso e aos aliados. Ele busca, assim, administrar a situação enquanto recebe críticas, inclusive de Alcolumbre, que ressaltou que decisões como o aumento do IOF não devem ser tomadas sem a consideração do Poder Legislativo.
Alcolumbre e Motta atuam como intermediários na relação entre o governo e os líderes partidários, sendo que um estranhamento nas relações devido à insistência do governo no decreto é uma possibilidade cada vez mais cogitada. Na manhã de quinta-feira, Haddad comentou sobre a tensão dos dias anteriores, destacando a complexidade de seu papel como ministro no governo.