Gabriele Mazzini é um especialista em governança e regulamentação de inteligência artificial (IA), reconhecido por sua contribuição à proposta da Lei de IA da União Europeia (UE). Com sete anos de experiência na regulação da IA, ele se afastou da Comissão Europeia, expressando insatisfação com certas diretrizes. Em declarações públicas, Mazzini destaca a necessidade de um debate aprofundado sobre a eficácia das questões regulatórias estabelecidas.
Uma das críticas centrais de Mazzini é a regulação de modelos de propósito geral, como o ChatGPT, em um momento inicial no mercado, que ele considera uma medida excessivamente preventiva. Ele argumenta que a regulamentação desse tipo de ferramenta pode inibir o avanço em áreas que poderiam ser benéficas, além de mencionar o problema da classificação excessiva de aplicações como “alto risco”. Esse cenário gera incertezas legais prejudiciais, especialmente para Pequenas e Médias Empresas (PMEs) na Europa.
Mazzini será uma das personalidades em destaque na Campus Party, evento programado para ocorrer entre os dias 18 e 22 de junho, no Distrito Federal. O evento reunirá especialistas para discutir a criação de um marco regulatório ético e inclusivo para a IA no Brasil, refletindo a importância da compreensão global sobre os desafios regulatórios enfrentados atualmente.
Durante uma entrevista, Mazzini expressou ceticismo sobre a ideia de que todos os aspectos da IA necessitam de regulação governamental. Ele observou que muitas atividades já estão regulamentadas, incluindo aquelas em setores sensíveis como saúde e finanças, e que as regulamentações devem focar em riscos realmente novos. Propõe-se que um equilíbrio seja encontrado, a fim de não limitar o desenvolvimento da tecnologia.
No que diz respeito à regulação em setores sensíveis, como saúde, Mazzini defende um controle mais rigoroso, mas também alerta para o perigo de uma supervisão excessiva, que poderia desencorajar inovações essenciais em áreas que carecem de recursos humanos adequados.
A singularidade da regulação da IA na Europa levanta questionamentos sobre sua aplicabilidade em outras regiões do mundo. Mazzini enfatiza que uma abordagem homogênea não é viável, dada a diversidade de valores e sistemas legais existentes. As diferenças nos objetivos dos países em relação à IA também influenciam a regulação, refletindo a necessidade de adaptar legislações a contextos específicos.
A competição acirrada entre empresas de diversas partes do mundo, especialmente na Ásia, é outro ponto que deve ser considerado na formulação de políticas, buscando promover um mercado justo e competitivo que favoreça a inovação local. Mazzini sugere que a transparência deve ser um componente chave na regulamentação, especialmente no que tange a grandes plataformas de tecnologia.
Além disso, Mazzini destaca a relevância do hardware e dos recursos energéticos na operação da IA. Esses elementos são cruciais não apenas para entender o impacto da tecnologia, mas também para criar condições que favoreçam o desenvolvimento da IA em um país.
A insatisfação de Mazzini ao deixar a Comissão Europeia está relacionada ao regulamento de modelos de fundação e à rápida implementação de leis que, em sua visão, podem comprometer a competitividade europeia. A combinação pouco coerente entre a Lei de IA e outras legislações da UE, como o GDPR, gera incertezas para as empresas, em particular as pequenas.
Ele observa que a incerteza pode levar as empresas a evitar investimentos, prejudicando o desenvolvimento da IA, sobretudo para PMEs. As grandes companhias possuem recursos suficientes para navegar na complexidade regulatória, porém as pequenas e médias empresas podem encontrar dificuldades significativas.
Sobre o impacto da IA no emprego, Mazzini reconhece que essa é uma preocupação válida. Ele observa que a automação tende a se expandir para diversas áreas, incluindo profissões intelectuais. Essa transição precisa ser gerida cuidadosamente, já que o avanço tecnológico é inevitável e afetará a obsolescência de alguns postos de trabalho.
A solução para esses desafios, de acordo com Mazzini, reside em um investimento robusto em educação. É essencial que os trabalhadores sejam preparados para essa nova realidade, onde a IA se torna uma ferramenta comum em diversas funções. A transição requer uma preparação cuidadosa e uma reflexão profunda por parte dos governos sobre o futuro do trabalho em um mundo cada vez mais dominado pela tecnologia.