14 março 2025
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A Fascinante História da Abandono do Salto Alto Masculino

Durante a Semana de Moda de Paris, homens apresentaram uma variedade de calçados com salto, incluindo scarpins, botas folgadas na passarela da Vivienne Westwood e botas robustas utilizadas pelo rapper e ator Jaden Smith na Louis Vuitton. Essa diversidade pode ser vista como um avanço, embora tenha havido tempos em que o uso de saltos por homens era comum. A conexão das mulheres com os sapatos de salto alto data do século 17, quando esses itens se tornaram essenciais no vestuário das classes altas, por sua capacidade de fazer os pés parecerem menores e mais delicados. Antes desse período, os saltos eram predominantemente usados por homens, simbolizando virilidade e status social elevado.

Na década de 1970 e 1980, apesar da tentativa do glam rock de popularizar o uso de saltos altos entre homens, muitos que buscavam ganhar altura o faziam em segredo, utilizando palmilhas escondidas em sapatos sociais. Atualmente, as aparições de homens em tapetes vermelhos e passarelas com saltos são frequentemente interpretadas como uma subversão das normas de gênero. Exemplos disso incluem as botas plataforma de salto transparente do designer Rick Owens, o estilo disco do ator Jared Leto, com saltos brancos ou dourados, e a coleção de botinas decoradas do músico Prince. Apesar dos avanços, persiste a limitação: quando o ator Billy Porter lançou uma linha de saltos sem gênero em parceria com a Jimmy Choo em 2021, ele se uniu a um pequeno grupo de marcas que oferecem calçados com salto em tamanhos maiores.

Em um contexto onde a altura é frequentemente considerada uma característica atrativa, levando alguns homens a exagerar nas informações de altura em aplicativos de encontros ou, em casos extremos, a se submeterem a dolorosas cirurgias de alongamento das pernas, destaca-se a questão do por que os saltos não são mais amplamente aceitos por todos os gêneros. Elizabeth Semmelhack, curadora sênior do Bata Shoe Museum em Toronto, aponta o Iluminismo dos séculos 17 e 18 como um divisor de águas nas percepções sobre a humanidade. Durante esse período, filósofos começaram a encontrar semelhanças entre homens de diferentes classes socioeconômicas, mas a divisão de gênero se intensificou, com os homens sendo considerados ativos e as mulheres, decorativas.

A pesquisa de Semmelhack indica que a origem dos saltos remonta ao século 10 na Ásia Ocidental, onde foram projetados para ajudar cavaleiros a manter os pés nos estribos. Desde o início, os saltos já simbolizavam status, mas sua introdução na Europa ocorreu séculos depois, através do comércio com a Pérsia no século 16. O conceito de salto estava fortemente vinculado a ideias de masculinidade e equitação, e isso influenciou a forma como os calçados ocidentais foram desenvolvidos. Na Europa do século 17, homens ricos usavam saltos feitos de couro empilhado ou cobertos, sendo o uso do segundo tipo associado a estilos mais luxuosos. Com o tempo, saltos mais altos passaram a denotar um status elevado entre os homens, já que eram impraticáveis para longas distâncias.

Uma das representações mais icônicas do uso de saltos ornamentados por homens pode ser observada no retrato do rei francês Louis XIV, de 1701, onde ele aparece com roupas luxuosas e sapatos brancos com saltos vermelhos, que simbolizavam seu status real. Esses saltos vermelhos eram restritos a um pequeno grupo de nobres. Obras da época retratam mulheres em vestidos que ocultavam os sapatos, enquanto homens se exibiam com seus calçados adornados. Posteriormente, o designer Christian Louboutin popularizou solas vermelhas, visando um efeito luxuoso semelhante.

Apesar das associações atuais entre altura e masculinidade, a popularidade dos saltos entre homens não se desenvolveu, conforme observou Semmelhack. Na verdade, os atributos de altura e masculinidade não estavam conectados na época, mas os saltos acabaram se tornando uma ferramenta na moda feminina, projetada para acentuar a aparência de pés menores. Assim, enquanto os saltos de couro desapareceram do vestuário masculino, seus substitutos praticados conquistaram o espaço, enquanto os saltos femininos foram sincronizados a complexas implicações sociais e políticas. Esse fenômeno tem sido explorado por artistas drag e na cultura ballroom queer, onde os saltos representam um elemento dramático e performático.

À medida que os saltos se tornaram um símbolo da feminização, passaram a ser associados à irracionalidade e atratividade, gerando um dilema. Homens, por sua vez, enfrentam uma expectativa dupla, especialmente considerando que a altura média global é inferior a 1,73 m. Muitas figuras públicas têm recorrido a recursos como elevadores de sapatos e até cirurgias para criar a ilusão de altura, evidenciando a relevância e a controvérsia em torno dos saltos como uma alternativa elegante, apesar do tabu persistente. Muitos estilos de saltos que são considerados ousados em homens não apresentam uma conotação feminina, levando à reflexão sobre se sua aceitação é verdadeiramente uma transgressão de gênero ou se representa uma reclamação a respeito de modas masculinas históricas.

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