sexta-feira, janeiro 31, 2025
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A necessidade de diversidade em conselhos de marketing feminino

Não é difícil notar que a dinâmica dos conselhos administrativos das grandes corporações está defasada em relação às demandas e mudanças que observamos atualmente na sociedade e no mercado. Como mulher e CEO com anos de experiência no setor de marketing, reconheço a importância da perspectiva de quem compreende a jornada do consumidor, a inovação e a construção de marcas para o êxito de qualquer empreendimento. Contudo, ao analisarmos a composição dos conselhos, percebemos uma prevalência quase exclusiva de profissionais das áreas jurídica e financeira, cujos conhecimentos são indiscutivelmente valiosos, mas que acabam deixando de lado uma visão mais abrangente e humana, que é exatamente onde o marketing pode trazer contribuições significativas.

A escassez de profissionais com ampla experiência em marketing nos conselhos é realmente notável. Podemos afirmar com segurança que apenas uma minoria raquítica desses conselhos é formada por executivos com formação em marketing, enquanto a totalidade deles conta com diretores de finanças. Essa disparidade expõe um erro crítico na estrutura de tomadas de decisão das empresas, que priorizam números e finanças, sem levar em conta o impacto que as marcas têm nas vidas das pessoas, na percepção do mercado e, por consequência, no valor das ações.

O trabalho abrangente dos profissionais de marketing afeta diretamente as flutuações da bolsa, visto que são eles que mantêm um olhar atento às tendências da sociedade, dominando toda a cadeia de consumo, desde a detecção de tendências até a elaboração de narrativas que conectam marcas e consumidores. Esses especialistas, que entendem profundamente o comportamento do consumidor, possuem a chave para que as empresas tomem decisões mais eficazes, alinhadas às transformações que um público cada vez mais exigente e digital demanda.

Além disso, as evidências demonstram que conselhos que incluem profissionais especializados em marketing trazem resultados tangíveis. Um estudo publicado em uma importante revista de marketing revelou que ter pelo menos um expert em marketing no conselho está associado a um aumento de 3% no retorno total para os acionistas, podendo esse impacto ultrapassar 6% em empresas que enfrentam desafios de crescimento. Esses dados são significativos e mostram que o marketing não deve ser visto como uma área secundária, mas sim como um componente estratégico essencial ao desempenho nos principais indicadores empresariais.

E ao discutirmos a renovação dos conselhos, é fundamental abordar a questão de gênero. A presença de mulheres nesses grupos ainda é restrita e, quando elas estão presentes, frequentemente são as mesmas CEOs que transitam entre diferentes conselhos. Essa situação precisa ser transformada. É necessário incluir novas mulheres, com formações e experiências variadas, e, acima de tudo, com uma visão inovadora capaz de proporcionar diversidade de pensamento e soluções para os desafios contemporâneos. A intenção não é apenas cumprir uma cota de gênero, mas sim valorizar ao máximo o potencial que essas mulheres, muitas das quais vêm do setor de marketing, têm a oferecer.

A reflexão que proponho é: por que continuamos restringindo a tomada de decisões a ambientes que carecem de diversidade de pensamento? Ao observarmos o consumidor, a sociedade e o impacto social das marcas, estamos promovendo uma discussão mais rica e uma visão de futuro no conselho.

Assim como a inovação tecnológica vem revolucionando o mundo corporativo, o marketing ocupa um papel central nessa transformação. Estamos falando da criação de experiências, do fortalecimento de relações de confiança e da geração de valor que vai além do financeiro, englobando também o simbólico para as marcas. E quem melhor para liderar essa transformação do que aqueles que compreendem, em profundidade, como as marcas são percebidas e consumidas no cotidiano?

Precisamos abrir espaço no conselho para incluir vozes diversas, que ofereçam não somente conhecimento técnico, mas também uma visão humanizada e estratégica. Isso garantirá que as decisões empresariais sejam tão impactantes quanto as marcas que representam.

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