Uma pesquisa recente realizada pelo University College London e pelo Museu de História Natural do Reino Unido indica que os primeiros fósseis de dinossauros do mundo podem estar enterrados em áreas extremamente difíceis de explorar. Atualmente, os fósseis mais antigos identificados datam de cerca de 230 milhões de anos. Esses vestígios foram localizados em regiões que, no passado, integravam Gondwana – a parte sul do antigo supercontinente Pangeia. Curiosamente, os fósseis pertencem a ramos distantes da árvore evolutiva dos dinossauros, sugerindo que essas criaturas já estavam se desenvolvendo e se espalhando pelo planeta há milhões de anos.
A descoberta de dinossauros do mesmo período em Laurásia, a antiga massa continental ao norte de Pangeia, trouxe novas perspectivas sobre a origem e a evolução esses animais. Acredita-se, atualmente, que o verdadeiro berço dos dinossauros ainda não foi identificado e que pode estar localizado em áreas extremamente inacessíveis, como o deserto do Saara e a Amazônia.
Embora fósseis possam ser encontrados em muitas partes do mundo, existe uma notável lacuna no registro fóssil nas proximidades do equador. Entretanto, isso não implica que dinossauros não habitavam essas regiões. A formação de fósseis requer condições bastante específicas. Vestígios, como pegadas, precisam ser rapidamente cobertos por sedimentos que se compactam ao longo do tempo; enquanto os fósseis corporais necessitam que os restos do animal sejam cobertos por lama ou lodo logo após sua morte, impedindo a decomposição total. Mesmo quando essas condições são satisfeitas, a busca por fósseis em locais remotos é um desafio significativo.
De acordo com um estudo publicado na revista Current Biology, as expedições paleontológicas em áreas como o Saara e a Amazônia são raras, tanto devido à dificuldade de acesso quanto aos desafios ambientais e socioeconômicos enfrentados. “Além disso, fatores como o legado do colonialismo, instabilidades políticas e limitações socioeconômicas também impactam os esforços de pesquisa nessas regiões”, afirmam os pesquisadores. O estudo utilizou modelos para rastrear a radiação evolutiva dos dinossauros, baseando-se em fósseis conhecidos, dados taxonômicos e na geografia do período. Regiões sem fósseis não foram descartadas como áreas não habitadas por dinossauros, mas sim classificadas como “zonas de informações ausentes”.
Os cientistas testaram três cenários evolutivos diferentes, levando em conta diversas árvores genealógicas dos dinossauros. Um dos modelos sugeriu que a origem ocorreu em Gondwana, especificamente em áreas de baixa latitude que correspondem atualmente ao Saara e à Amazônia. Essa hipótese indica que os silesaurídeos – um grupo de répteis relacionados aos dinossauros – poderiam ser ancestrais dos ornitísquios, um dos três principais grupos de dinossauros. Curiosamente, os fósseis de ornitísquios estão ausentes no registro dos primeiros dinossauros, mas os silesaurídeos podem ajudar a preencher essa lacuna.
Gondwana, situada em baixa latitude, também está estrategicamente localizada entre os fósseis mais antigos já descobertos, o que fortalece a teoria de que esta região pode ser o núcleo da origem dos dinossauros. Apesar de ainda não ter sido encontrado nenhum fóssil de dinossauro nas regiões da África e América do Sul que pertenciam a essa parte de Gondwana, os pesquisadores atribuem essa ausência à dificuldade de acesso e à falta de investimento em pesquisas.