Com 202 milhões de seguidores, Elon Musk utilizou o X como um megafone para apoiar Donald Trump e disseminar desinformação sobre as eleições. No início de novembro, logo após Trump garantir o voto de 277 delegados eleitorais – sete a mais do que o mínimo necessário nas eleições indiretas nos Estados Unidos – o governo brasileiro começou a se organizar. Com o retorno do republicano à presidência e a ascensão do excêntrico Elon Musk como conselheiro, colaboradores do presidente Lula perceberam que, a partir de 2025, a dupla utilizaria todos os recursos disponíveis nas redes sociais para propagar discursos que, ao serem replicados por influenciadores e parlamentares próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro, poderiam impactar o governo federal e intensificar ataques e ofensas a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Ainda que tenham sido impedidos de participar da posse de Trump na segunda-feira, 20, os apoiadores de Bolsonaro – que vão desde parlamentares do PL até Eduardo Bolsonaro – sempre encararam a vitória de Trump como uma chance de revitalizar pautas importantes para eles, como a aprovação de uma anistia política no Congresso, a disseminação de informações falsas sobre uma suposta ditadura do Judiciário e até a revogação de vistos de entrada para ministros do STF nos Estados Unidos. Durante a posse, o presidente americano, cercado por representantes das grandes empresas de tecnologia, deixou claro seu objetivo e, em um dos primeiros atos, dispensou as plataformas da obrigação de remover postagens a pedido do governo.
Dada a natureza imprevisível de Trump, setores do Executivo estão se preparando para diversas possibilidades em relação a um possível aumento de postagens que, sob um disfarce de liberdade de expressão ilimitada, possam criticar o governo brasileiro e o STF. Informações obtidas de ministros e membros de alto escalão indicam que:
tanto uma postagem de Trump quanto de Musk poderiam levar a usuários influentes nas redes a replicar, por exemplo, ofensas ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que no ano anterior havia suspendido o X no Brasil após a plataforma se recusar a cumprir ordens judiciais.
mais do que um simples aumento na visibilidade de conteúdos, o governo acredita que a viralização do vídeo do deputado bolsonarista Nikolas Ferreira sobre o monitoramento de transações financeiras via pix no Instagram, que pertence a Mark Zuckerberg, pode ter sido o primeiro indício de uma suposta interferência das redes nas questões internas do Brasil.
Na reunião ministerial do dia 20, o novo ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, declarou que o Brasil não é apenas um alvo possível do que ele chamou de “coesão” entre Donald Trump e as grandes empresas de tecnologia e acrescentou que acredita que a regulação das redes, atualmente sob avaliação no STF, é a principal ferramenta de proteção contra postagens que disseminem desinformação ou incitem violência.