11 abril 2025
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A Relevância das Moléculas Orgânicas em Marte: O Que Precisamos Saber

O rover Curiosity da NASA fez uma descoberta significativa ao identificar as maiores moléculas orgânicas já encontradas em Marte. Essa descoberta fornece novas informações sobre a história do planeta vermelho. Os compostos recentemente analisados sugerem que uma química orgânica complexa pode ter ocorrido no passado de Marte, o que é considerado um dos requisitos essenciais para a origem da vida. As moléculas detectadas, incluindo decano, undecano e dodecano, foram reveladas após o rover analisar uma amostra de rocha que possui 3,7 bilhões de anos, utilizando seu instrumento de análise de amostras, denominado SAM (Sample Analysis at Mars).

Pesquisadores consideram que essas longas cadeias moleculares podem ser fragmentos de ácidos graxos, que são essenciais para a vida terrestre, desempenhando um papel fundamental na formação das membranas celulares. Por outro lado, tais substâncias podem ser geradas através de reações não biológicas, decorrentes da interação entre água e minerais em fontes hidrotermais. Actualmente, não é possível confirmar se as moléculas identificadas são indícios de vida passada em Marte, mas elas se somam ao conjunto crescente de compostos que estão sendo descobertos por exploradores robóticos no planeta nos últimos anos. Um estudo sobre essas descobertas foi publicado na Proceedings of the National Academy of Sciences.

A identificação dessas moléculas junto com astrobiólogos é encorajadora, pois sugere que, se biossinais de vida antiga existiram em Marte, esses ainda podem ser detectados, apesar da radiação solar intensa que atinge o planeta por milhões de anos. Especialistas citam que, caso tenha existido vida no antigo Marte, algumas moléculas complexas e frágeis poderiam ter sido liberadas. A capacidade de Marte em preservar essas moléculas implica que vida antiga pode ser detectável.

A descoberta também traz à tona a necessidade de coletar amostras de Marte e trazê-las de volta à Terra, onde cientistas poderiam realizar estudos com ferramentas avançadas capazes de ajudar a responder se a vida realmente existiu fora do nosso planeta.

O rover Curiosity pousou na cratera Gale em 6 de agosto de 2012 e, ao longo de sua missão de mais de 12 anos, percorreu mais de 34 quilômetros no Monte Sharp, que é parte da cratera. Essa formação geológica contém diversas camadas que preservam milhões de anos da história do planeta, mostrando a transição de um ambiente úmido para um seco.

Uma das amostras mais significativas coletadas pelo Curiosity foi obtida em maio de 2013, ao perfurar uma rocha chamada “Cumberland” em Yellowknife Bay, uma área que se assemelha a um antigo leito de lago. As rochas de Cumberland despertaram tanto interesse entre os cientistas que o rover retornou para coletar amostras adicionais antes de continuar sua jornada ao Monte Sharp. Desde então, o Curiosity analisou a amostra de Cumberland de várias maneiras usando o SAM, revelando que Yellowknife Bay possuía um antigo lago em que minerais argilosos se formaram em água. O folhelho ali presente facilitarou a concentração e preservação de moléculas orgânicas.

Pesquisadores já identificaram anteriormente, em 2015, moléculas orgânicas na amostra de Cumberland, além de uma abundância de enxofre, nitratos e metano com características associadas a processos biológicos. A evidência de que a água líquida existiu na cratera Gale por um extenso período sugere que houve tempo suficiente para que as reações químicas necessárias para a vida ocorressem nessas condições lacustres.

As amostras de Cumberland foram armazenadas de maneira a preservar partes intactas para futuras análises, permitindo ao rover realizar novos experimentos a quilômetros de distância do local original. Recentemente, um experimento focou na possível presença de aminoácidos, mesmo que não tenha conseguido confirmar essa presença; uma descoberta inesperada de pequenas quantidades de decano, undecano e dodecano foi feita. Experimentos feitos em laboratório terrestre mostraram que a mistura de ácido undecanoico com uma argila que imita as condições de Marte, sob aquecimento, gerou decano, corroborando as detecções do Curiosity.

Cada ácido graxo identificado continha entre 11 e 13 átomos de carbono. Embora moléculas anteriores detectadas em Marte fossem menores, estas últimas são consideradas potenciais precursoras de estruturas essenciais para a vida. A capacidade do SAM de identificar moléculas maiores sugere que é possível que sinais químicos associados à vida possam ser detectáveis, mesmo que o município do Curiosity não seja especificamente focado na detecção de vida, mas sim nas condições que poderiam ter permitido o seu desenvolvimento.

A comunidade científica estava cética quanto à possibilidade de encontrar moléculas orgânicas em Marte, em razão da forte radiação que afeta o planeta há eras. Embora não haja planos imediatos de retornar a Yellowknife Bay, amostras ainda preservadas a bordo do Curiosity estão sendo analisadas. Um novo experimento está em planejamento para investigar mais a fundo as descobertas. Especialistas acreditam que a coleta de moléculas de cadeias longas poderá aproximar ainda mais a compreensão da origem dessas substâncias.

As descobertas estão sendo celebradas por pesquisadores, que consideram um grande avanço para a equipe. O instrumento SAM é projetado para analisar amostras de rochas e solos marcianos e busca constantemente composições orgânicas. A análise de sedimentos de antigos ambientes aquáticos em Marte promete revelar uma rica diversidade de moléculas orgânicas, possibilitando insights sobre processos prebióticos e potenciais biossinais de formas de vida antigas.

Além disso, a Agência Espacial Europeia planeja o lançamento do rover ExoMars Rosalind Franklin, previsto para 2028, com um instrumento complementar ao SAM, com a capacidade de perfurar a superfície marciana em busca de moléculas orgânicas. O rover Perseverance, em operação, continua a coletar amostras na cratera Jezero, um potencial local rico em informações sobre a história da água em Marte. A análise profunda das amostras coletadas está programada para a década de 2030.

Ambos os rovers têm registrado moléculas orgânicas em diferentes locais do planeta, indicando que o carbono orgânico é uma ocorrência comum em Marte, embora a origem dessas moléculas ainda não seja totalmente esclarecida. Para compreender melhor a questão dos biossinais, análises com maior resolução e sensibilidade em laboratórios na Terra serão necessárias. Se os compostos encontrados na amostra de Cumberland forem mesmo subprodutos de vida microbiana de há 3,7 bilhões de anos, coincidirão com o período em que a vida pode ter começado a se desenvolver na Terra. A descoberta do Curiosity representa um avanço significativo na investigação sobre a vida em Marte, embora respostas definitivas dependam das futuras análises laboratoriais na Terra.

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