16 abril 2025
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A Revolucionária Exposição do Principal Fotojornalista Brasileiro

Com suas lentes sempre prontas, Orlando Brito (1950–2022) foi um dos principais responsáveis por registrar os bastidores do poder em Brasília. Ele acompanhou de perto a rotina de 13 presidentes da República, desde Castello Branco até Jair Bolsonaro. No entanto, foi no Alto Xingu, longe do Planalto, que esse destacado fotojornalista criou um dos capítulos mais sensíveis e pouco conhecidos de sua obra. O registro desse período agora é apresentado na exposição “Réquiem”, disponível até o dia 5 de junho no JK Espaço Arte, em Brasília.

Sob a curadoria de Carolina Brito, filha do fotógrafo, a mostra traz 25 imagens inéditas que documentam o Quarup, um ritual fúnebre e de celebração da memória dos mortos, fundamental para os povos indígenas do Alto Xingu. Brito foi uma das poucas pessoas a se aproximar dessas comunidades com respeito e profundidade, estabelecendo uma relação de confiança ao longo de várias décadas.

Em agosto de 2012, Orlando Brito viajou para o Quarup junto com seus amigos, também fotógrafos, Igo Estrela, Rogério Reis e Evandro Teixeira, já falecido. A jornada foi feita em um pequeno bimotor, fretado pelo grupo, após obter a autorização da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). O destino era a aldeia Yawalapiti, a convite do cacique Aritana, uma figura proeminente no movimento indígena brasileiro. Brito, que já havia participado da cerimônia antes, sentia-se muito honrado por apresentar aos amigos aquele momento que ele descrevia como “um verdadeiro manancial de imagens”. Eles não eram apenas fotógrafos, mas testemunhas de uma rica diversidade cultural que persiste com beleza e dignidade.

A relação de Orlando Brito com os povos do Xingu teve início nos anos 1980, quando ele registrou a trajetória de Mário Juruna, o primeiro deputado federal indígena do Brasil. Desde então, Brito retornou ao território indígena várias vezes, documentando cerimônias, rituais e o dia a dia das aldeias, sempre com um compromisso ético e estético que caracterizou sua carreira.

Orlando Brito se destacou como um dos maiores fotojornalistas do Brasil e recebeu diversos prêmios internacionais. Entre os reconhecimentos, estão o World Press Photo, o Prêmio Esso de Jornalismo e o Prêmio Abril de Jornalismo, além de honrarias do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e da Unesco, valorizando seu legado. Ele também foi autor de livros emblemáticos como “Ilusões Perdidas”, “Luz e Sombra” e “Senhoras e Senhores”.

Seu acervo contém mais de 400 mil fotografias, assim como equipamentos, documentos, prêmios e publicações, e foi recentemente incorporado ao Instituto Moreira Salles, onde será digitalizado e preservado, somando-se a obras de outros fotógrafos renomados.

A exposição “Réquiem” não é apenas uma mostra; é uma conexão profunda entre pai e filha, uma fusão entre memória e resistência, um mergulho na alma de um fotógrafo que via o mundo com sensibilidade, deixando como legado um Brasil revelado em suas múltiplas camadas — do poder à ancestralidade.

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