7 abril 2025
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A Sombria Conexão: O Amor e o Ódio entre Mussolini e Hitler

Em novembro de 1934, durante uma visita de Nahum Goldmann, membro da direção da Organização Sionista Mundial, ao Palazzo Venezia, o ditador italiano Benito Mussolini expressou suas opiniões sobre Adolf Hitler. Mussolini afirmou conhecer bem Hitler, descrevendo-o como um “imbecil” e um “malandro fanático”, e assegurou a Goldmann que, independentemente do que ocorresse com Hitler, os judeus continuariam a ser um “grande povo”. Ele prosseguiu dizendo que nem ele nem os judeus deveriam temer o líder nazista, prevendo um futuro em que ambos sobreviveriam a ele.

A relação entre Mussolini e Hitler, que se desenvolveu nos anos seguintes, foi marcada por uma complexa mistura de sentimentos, incluindo traições e uma subserviência notável de Mussolini em relação a Hitler. Essa interação e suas consequências trágicas foram as bases da narrativa histórica abordada na obra “M, Os últimos dias da Europa”, o terceiro volume de uma quadrilogia escrita por Antonio Scurati, professor de literatura comparada em Milão. O lançamento do livro no Brasil pela Editora Intrínseca está alinhado com dois marcos importantes de 2025: os 80 anos da morte de Mussolini, em 28 de abril, e os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, em 2 de setembro.

A recepção das obras de Scurati na Itália reflete a permanência das memórias do período fascista no país. A ideologia representada por Mussolini continua a se manifestar ao longo das gerações, frequentemente associada a políticos identificados como de extrema direita. Em diferentes momentos, a figura de Mussolini surge em produções culturais, como filmes e peças, frequentemente acompanhada de controvérsias. Um exemplo recente ocorreu em abril de 2024, quando Scurati foi convidado a participar de um programa da TV pública italiana, onde pretendia discutir a ascensão da extrema direita e os ecos do fascismo no presente. Sua participação foi, no entanto, censurada, resultando em uma crítica pública direcionada à primeira-ministra Giorgia Meloni e seu partido, que possuem vínculos com movimentos neofascistas.

O livro “M, Os últimos dias da Europa” é composto por 384 páginas e está disponível por R$ 89,90. Os volumes anteriores da quadrilogia são “M, o homem da providência”, lançado em 2022, e “M, o filho do século”, de 2018. A obra completa retrata a trajetória de Mussolini como um agitador político e a ascensão do fascismo, alertando para possíveis perigos futuros. O primeiro volume abrange o período de 1919 a 1925, enquanto o segundo se concentra na consolidação da ditadura entre 1925 e 1932.

No novo volume, o período analisado é de 1938 a 1940, focando na aliança crescente entre Mussolini e Hitler e na entrada da Itália na guerra. Com detalhes minuciosos, Scurati descreve como Mussolini, movido por “delírios de grandeza”, se submeteu à ideologia nazista, tornando-se uma figura secundária na história dominada pelos interesses de Hitler. Um evento emblemático foi a visita de Hitler à Itália em maio de 1938, que teve o objetivo de estreitar laços entre os dois regimes totalitários. Com o tempo, a visão de Mussolini sobre Hitler mudou, favorecendo os interesses de sua aliança.

Apesar da aproximação, uma diferença ideológica significativa sobre a questão racial manteve os líderes à distância no início. Contudo, após conversas com Hitler, Mussolini intensificou a perseguição aos judeus, institucionalizando a discriminação sob a égide do fascismo. A aprovação de medidas antissemíticas não apenas agradou ao Partido Nazista, mas também fortaleceu a urgência de uma aliança militar, embora isso causasse resistência no líder italiano.

Conforme os conflitos se intensificavam, Mussolini fez exigências financeiras a Hitler, o que prejudicou sua reputação na Europa, onde foi rotulado como traiçoeiro. Mesmo assim, com a vitória do Terceiro Reich em batalhas iniciais, Mussolini decidiu arrastar a Itália para uma guerra à qual o país não estava preparado. O desfecho da narrativa será completado com o lançamento do quarto volume da quadrilogia, “M, A hora do destino”, em 2026, que abordará a campanha italiana na guerra e a captura de Mussolini em 1945, culminando em sua execução.

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