Um breve alívio foi observado na sexta-feira (7), ao mesmo tempo em que a realidade de um regime tarifário ainda tumultuado sob a administração do presidente Donald Trump se tornava evidente. Em declarações a jornalistas no Salão Oval, o presidente informou que irá anunciar novas tarifas recíprocas na próxima semana. Essa medida pode refletir uma promessa de campanha e um desejo contínuo de equiparar os impostos de importação de países estrangeiros, visando restaurar o que ele considera ser a justiça no comércio internacional. A possibilidade de novas tarifas impactou os investidores, gerando consequências em um período que, até então, era relativamente calmo para o mercado de ações.
Os índices acionários sentiram o impacto, resultando em uma queda de 400 pontos, ou 0,9%, no Dow Jones Industrial Average. O S&P 500 também registrou uma queda de 0,9%, enquanto o Nasdaq Composite Index, notablemente voltado para o setor de tecnologia, experimentou uma baixa de 1,4%. Apesar de as tarifas gerais de 10% sobre as importações da China terem entrado em vigor na terça-feira (4) e da China ter respondido com tarifas próprias, os mercados estavam em alta até então, impulsionados pela decisão de Trump de adiar a imposição de tarifas de 25% sobre produtos do México e do Canadá.
O presidente afirmou que a introdução de tarifas recíprocas garantiria um tratamento igualitário em relação a outros países e poderia contribuir para a redução do déficit orçamentário dos Estados Unidos. As tarifas têm sido uma parte essencial da estratégia de Trump para aumentar a receita, com o intuito de financiar cortes de impostos prometidos em 2017. Entretanto, os economistas alertam que o ônus financeiro das tarifas recai sobre os consumidores americanos, que acabarão arcando com os custos adicionais.
Caso Trump implemente tarifas de 25% sobre o México e o Canadá, atualmente previstas para entrar em vigor em 1º de março, o impacto econômico pode ser significativo. Estimativas do Peterson Institute indicam que isso representaria um aumento de impostos superior a US$ 1.200 por ano para uma família típica americana. Esse aumento seria o maior desde 1993, segundo pesquisadores. Além disso, mesmo com a possível extensão dos cortes de impostos de 2017, os 60% mais pobres da população trabalhadora estariam em desvantagem devido às tarifas.
Ainda é incerto como seriam estruturadas essas tarifas recíprocas. Recentemente, Trump havia falado sobre a possibilidade de uma tarifa geral de 10% sobre todas as importações. A noção de igualar os impostos de importação de diferentes países consiste em um tema recorrente na retórica de campanha do presidente, com a intenção de levar a uma redução nos déficits comerciais dos EUA. As lacunas comerciais avaliam a diferença entre o que os Estados Unidos importam e o que exportam, e Trump considera que esses déficits demonstram que o país está perdendo bilhões de dólares para outras nações.
Economistas expressam preocupação de que a retórica de Trump sobre déficits comerciais oferece uma visão distorcida de uma dinâmica que é fundamental para a economia dos EUA, especializada na compra de serviços e produtos que não são amplamente produzidos internamente. A implementação de tarifas recíprocas poderia provocar uma série de respostas retaliatórias de países afetados, potencialmente levando a uma guerra comercial. Essa situação resultaria em um aumento contínuo dos impostos, que afetaria principalmente os consumidores, pois são os importadores americanos que pagam as tarifas, e não os países-alvo.
O imposto de 10% sobre produtos chineses abrange cerca de US$ 427 bilhões em bens, superando as taxas impostas anteriormente que correspondiam a aproximadamente US$ 380 bilhões em importações estrangeiras, conforme avaliado pela Tax Foundation. A administração também decidiu suspender temporariamente algumas tarifas, reestabelecendo a isenção de minimis, que permite que pacotes de até US$ 800 entrem nos EUA sem imposto. Esta isenção foi reinstaurada rapidamente, mas causou confusão em relação à inspeção de pacotes provenientes da China. Além disso, uma ordem executiva foi assinada para restaurar essa isenção até que medidas adequadas para processamento e coleta de receitas tarifárias sejam implementadas. A duração desse adiamento não foi especificada, demonstrando a incerteza em torno da aplicação e do alcance de tarifas potenciais que poderão ser introduzidas em breve.