Anexar o Canadá, deter opositores políticos e impor uma sobretaxa de 200% sobre o vinho francês são declarações polêmicas de Donald Trump que ultrapassam diversas fronteiras. Uma das principais preocupações, considerando o curto período do presidente no cargo, é que a maioria da população americana expressa descontentamento com essas ações.
Na última sexta-feira, esse descontentamento tornou-se evidente em um marco significativo. Pela primeira vez, conforme a média das treze pesquisas do site RealClear, a desaprovação a Trump superou a aprovação, registrando 48,5% contra 47,8%. Recentemente, essa diferença diminuiu ainda mais, com 48,2% de aprovação em comparação a 48,4% de desaprovação.
A insatisfação pode ser atribuída, em grande parte, às expectativas frustradas em relação à economia, um assunto que tem grande impacto sobre a vida das pessoas. Presidentes dos Estados Unidos e do Brasil enfrentam, atualmente, uma situação semelhante, com a população insatisfeita com o custo de vida refletindo em seus índices de popularidade. O aumento de preços de produtos básicos, como o ovo, tornou-se um símbolo da inflação nos supermercados, enquanto iniciativas para controlar esses aumentos são frequentemente discutidas por figuras que estão distantes do cotidiano da população rural. Vale destacar que o PIB per capita dos americanos é de 82,8 mil dólares, o que é significativamente maior do que os 10,2 mil dólares do Brasil, o que leva a uma pressão maior sobre o padrão de vida.
De acordo com uma pesquisa realizada para a CNN, 44% da população aprova a gestão econômica atual, enquanto 56% desaprovam. Os recentes movimentos no mercado financeiro, apesar de serem constantemente acompanhados com cautela, revelaram um ambiente econômico sensível. Economistas de inclinação mais liberal apontam os riscos de uma recessão, embora previsões anteriores sobre recessão sob a administração Biden não se concretizaram. A gestão de Biden, ou de seus assessores, caracterizou-se por decisões previsíveis relacionadas a um aumento significativo de gastos que afetaram a inflação. Por outro lado, as políticas de Trump incluem a imposição de taxas sobre produtos estrangeiros, uma estratégia que também não contribui para a redução de preços.
Uma pesquisa da Universidade de Quinnipiac indica que Trump se encontra em desvantagem em outras áreas importantes, como política externa, onde sua aprovação é de 42% contra 53% de desaprovação; na questão da guerra entre Rússia e Ucrânia, os índices são de 38% de aprovação e 55% de desaprovação; e no comércio com o Canadá, a aprovação é de 36%, em comparação com 58% de desaprovação.
Assim como nas eleições, a base eleitoral dos republicanos e democratas permanece polarizada, com 89% de aprovação entre os republicanos e 96% de desaprovação entre os democratas. O que está em mudança é a posição dos eleitores independentes, que, atualmente, não estão favoráveis a Donald Trump.
A equipe econômica do governo apresenta forças consideráveis, com figuras como Scott Bessent, o secretário do Tesouro, comprometendo-se a reduzir o déficit, controlar os gastos e promover uma “reprivatização” da economia. Bessent, um milionário do setor financeiro, afirma que sua adesão à campanha de Trump foi motivada por preocupações com os gastos excessivos do governo Biden para estimular a economia. Ele declarou: “Estamos agora corrigindo o curso, desalavancando o governo e realavancando o setor privado”.
A implementação dessas políticas será observada de perto, apresentando uma oportunidade para uma verdadeira demonstração da teoria econômica em uma economia de 28 trilhões de dólares. A eficiência do liberalismo econômico será testada, assim como a capacidade de reduzir os preços de produtos essenciais, que, no momento, já apresentam sinais de queda.
Em contrapartida, o que está sendo aprendido no Brasil representa uma filosofia totalmente distinta. A comparação entre as duas abordagens trará lições valiosas sobre qual modelo — o de um governo gastador ou o de um governo cortador — é mais bem-sucedido, além de considerar como a alta imprevisibilidade de Trump pode impactar esse cenário.