sexta-feira, janeiro 31, 2025
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Alternativas acessíveis para espécies em risco de extinção

Houve um período recente em que a maior parte das vendas no setor automotivo brasileiro era composta pelos chamados “carros populares”. Esses modelos, mais básicos e com menos tecnologia, eram oferecidos a preços acessíveis, atendendo às demandas de mobilidade da população. Por exemplo, há dez anos, o Fiat Palio Fire era o modelo mais vendido em 2014 e custava cerca de 24.000 reais, o que equivale a aproximadamente 45.000 reais hoje. Atualmente, o cenário é bem diferente, com o preço médio dos veículos ultrapassando 150.000 reais no ano passado. A picape Strada, da Fiat, que lidera as vendas em 2024, tem um preço inicial de 108.000 reais, enquanto o Polo Track, da Volkswagen, ocupa a segunda posição, custando 93.000 reais.

Vários fatores contribuem para a evolução dos carros populares em relicários do mercado automotivo brasileiro. Em primeiro lugar, há um notável progresso tecnológico, que vem a um custo maior. Os veículos de hoje são mais seguros e equipados com tecnologia aprimorada, como telas com GPS, conectividade com smartphones e sistemas que auxiliam o motorista em situações de emergência. Além disso, os motores foram modernizados para atender às novas legislações ambientais. A alta do dólar também influencia significativamente. A desvalorização do real impacta não apenas os veículos importados, mas também a produção local, já que muitos componentes são cotados em dólares. Durante a pandemia, a escassez global de semicondutores ensinou as montadoras a aumentar a lucratividade através de uma produção inferior. Assim, a popularidade dos SUVs, considerados produtos de maior valor, se consolidou. Esses veículos, além de serem mais caros, geram uma margem de lucro significativamente maior para os fabricantes em comparação com os modelos mais simples.

Como consequência, os carros mais acessíveis estão se tornando escassos nas linhas de montagem. Hoje, poucos modelos são vendidos por menos de 90.000 reais, equivalente a sessenta salários mínimos. Os que ainda permanecem nessa faixa de preço pertencem à categoria dos subcompactos, como o Fiat Mobi e o Renault Kwid, ambos em torno de 76.000 reais. Esses modelos, embora simples e com alguns itens de série, apresentam cortes em termos de acabamento, desempenho e espaço do porta-malas. Também existem os modelos compactos na categoria dos hatchbacks, como o Citroën C3 e o Fiat Argo, que, apesar de terem sido os mais vendidos por um bom tempo, perderam mercado para os SUVs.

O reinado dos carros populares chegou ao fim. Por 27 anos, o Gol, em grande parte graças às suas versões mais acessíveis, dominou as vendas no Brasil. O Uno, da Fiat, também se destacou pela sua motorização 1.0 e manteve-se como um sucesso. A alta demanda por esses automóveis impulsionou as montadoras a aprimorar a tecnologia de suas motorizações mais modestas. No entanto, muitos motoristas ainda enfrentavam dificuldades em subidas íngremes, sendo forçados a desligar o ar-condicionado. Essas características eram comuns, com um acabamento interno bastante básico e materiais plásticos, visando a economia na produção.

Durante o auge dos carros populares, até mesmo o clássico Fusca foi reeditado sob a administração do então presidente Itamar Franco, em 1993. Um dos últimos esforços para reviver essa categoria ocorreu em 2023, quando o atual governo reduziu impostos sobre modelos que custavam até 120.000 reais. Essa medida trouxe algum alívio para a indústria inicialmente, mas acabou se mostrando insustentável a longo prazo. Com o fim dos incentivos, os preços voltaram a aumentar, e os modelos mais procurados passaram a ser reajustados com frequência.

A dinâmica desse mercado não mostra sinais de desaceleração. Com o dólar flutuando em torno de 5 reais, havia uma oportunidade para a introdução de veículos a preços um pouco mais baixos. No entanto, com a moeda agora em torno de 6 reais, a expectativa é que não haja uma redução de preços. A trajetória dos carros populares parece ser um capítulo na história da indústria automotiva sem possibilidade de retorno.

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