Em outubro de 1957, o satélite soviético Sputnik-1 foi lançado ao espaço, dando início à era moderna da corrida espacial. Desde então, a exploração espacial passou a representar não apenas avanço científico e ambição geopolítica, mas também potencial tecnológico. A órbita da Terra, especialmente em altitudes mais baixas, tornou-se um dos locais mais cobiçados do século XXI.
No entanto, um novo desafio tem surgido: um estudo recente publicado na revista Nature Sustainability aponta que a acumulação de dióxido de carbono e outros gases de efeito estufa na atmosfera pode afetar a viabilidade da ocupação orbital. A pesquisa, conduzida por cientistas do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e da Universidade de Birmingham, revela que o aumento das emissões está provocando o resfriamento e a contração da termosfera. Essa contração resulta em uma diminuição da densidade, reduzindo o arrasto atmosférico, uma força que normalmente promove a desintegração de satélites antigos e detritos ao levá-los a altitudes onde queimariam. Assim, a redução do arrasto permite uma maior vida útil para o lixo espacial, elevando o risco de colisões no espaço.
As implicações desse fenômeno são significativas, com uma estimativa indicando que o número de satélites capazes de operar com segurança poderá diminuir em até 66% até o fim do século. Essa redução afetará principalmente as áreas mais disputadas entre 400 e 1.000 quilômetros de altitude, onde estão localizados satélites de comunicação, meteorologia e geolocalização. A sobrecarga na órbita terrestre não só gera preocupações quanto à segurança operacional, mas também interfere nas observações científicas. A grande quantidade de satélites em operação compromete as análises realizadas por telescópios e a captação de sinais provenientes do universo profundo.
Atualmente, o congestionamento na órbita baixa é uma realidade cada vez mais evidente. Empresas como a Starlink, de Elon Musk, estão rapidamente lançando constelações compostas por milhares de pequenos satélites. Especialistas, como Thiago Signorini Gonçalves, diretor do Observatório do Valongo da UFRJ, destacam que a superlotação é uma questão crítica, mesmo antes das consequências da poluição espacial se agravarem.
A facilidade e o baixo custo para o lançamento de satélites, especialmente com o advento dos CubeSats — pequenos dispositivos que pesam menos de 10 quilos — revolucionaram a indústria espacial. Contudo, as regulamentações legais que deveriam acompanhar essa evolução tecnológica ainda estão em desenvolvimento. Atualmente, não há uma regulação efetiva que estabeleça limites claros para a exploração espacial, onde o quesito financeiro predomina.
Um cenário caótico pode se desenvolver, uma vez que os destroços de satélites inoperantes podem permanecer na órbita terrestre por longos períodos, viajando a altíssimas velocidades. Uma colisão entre esses objetos pode criar milhares de novos fragmentos, resultando em um fenômeno conhecido como síndrome de Kessler. Adicionalmente, a reação internacional a esse desafio é preocupante, com países que resistem a acordos ambientais continuando a intensificar a extração de combustíveis fósseis, colocando em risco tanto a vida na Terra quanto as descobertas no espaço.
A corrida espacial sempre foi interpretada como uma demonstração da capacidade humana de ultrapassar limites. O espaço representa um futuro promissor, e é crucial que os problemas associados a essa exploração não sejam minimizados devido à sua natureza menos visível. O céu, agora mais acessível, também se torna cada vez mais vulnerável.