22 fevereiro 2025
HomeEconomiaApós uma década, Previ volta a enfrentar perdas e investigações em fundo...

Após uma década, Previ volta a enfrentar perdas e investigações em fundo de pensão

A suspeita sobre a administração de fundos de pensão no Brasil é um tema recorrente, conforme indicado por especialistas. O déficit significativo na Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ) ecoa situações do passado e apresenta aspectos que remetem a eventos ocorridos há aproximadamente dez anos. Em 11 de fevereiro, o Tribunal de Contas da União (TCU) iniciou uma auditoria na gestão da Previ, após a divulgação de um rombo de R$ 14 bilhões no Plano 1 entre janeiro e novembro de 2024, sob a direção do sindicalista João Fukunaga. Esta ação foi solicitada pelo ministro Walton Alencar Rodrigues, que expressou grandes preocupações em relação aos resultados do fundo.

Os fundos de pensão, especialmente aqueles associados a empresas estatais, frequentemente se tornaram foco de suspeitas e perdas associadas à má gestão, que frequentemente envolve investimentos inadequados ou questionáveis, segundo Gilberto Braga, professor de finanças do MBA do Ibmec. Especialistas lembram que entre 2015 e 2016, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) investigou a administração de fundos da Caixa Econômica Federal (Funcef), dos Correios (Postalis), da Petrobras (Petro) e da própria Previ, buscando indícios de fraudes e gestão imprópria que ocorreram entre 2003 e 2015.

O relatório da CPI identificou um prejuízo estimado de R$ 6 bilhões nos quatro fundos investigados e fez recomendações para esclarecer 353 suspeitas de crimes e infrações administrativas, além de 146 indiciamentos. Os especialistas indicam que, no momento, não é possível determinar claramente as semelhanças e diferenças entre a situação atual e a do passado, sublinhando a importância da auditoria do TCU para investigar as causas das perdas na Previ, que é um passo crucial para a transparência na gestão e boas práticas de governança corporativa.

Em relação à alocação da Previ, Renan Silva, professor de economia do Ibmec, destaca que a natureza das perdas atuais é diferente daquelas observadas no passado, sendo que o déficit de 2024 está relacionado a investimentos em renda variável, principalmente em empresas listadas em bolsa. No passado, as perdas eram com ativos ilíquidos e não listados, incluindo private equity e empresas pré-operacionais. Portanto, uma auditoria independente é crucial para compreender melhor a origem dos prejuízos.

A análise realizada está de acordo com as observações de Luigi Micales, gestor da Black Swan, que menciona que a Postalis acumulou um prejuízo de R$ 5,6 bilhões em 2014 devido a investimentos em títulos de países como Venezuela e Argentina. O advogado Emanuel Pessoa ressalta que, mesmo durante a investigação preliminar, há preocupações históricas sobre corrupção e interferências políticas em fundos de pensão, reforçando a necessidade de entender as causas e os efeitos de um resultado negativo, essencial para avaliar a capacidade do fundo em cumprir seus compromissos futuros.

Uma estratégia de investimento mais conservadora, com ênfase em ativos de renda fixa, poderia ter prevenido o rombo bilionário na Previ, conforme afirmam os especialistas. Em contraste com a recente performance da Previ, que teve superávits de R$ 5,2 bilhões em 2022 e R$ 9,8 bilhões em 2023, o déficit de 2024 se assemelha aos resultados negativos durante o auge da pandemia, em 2021, quando o fundo enfrentou um déficit de R$ 14,85 bilhões.

Luigi Micales observa que a maior discrepância nas escolhas de investimentos está na distribuição dos ativos. Com apenas 3% dos 102 mil beneficiários da Previ ainda ativos, o fundo deveria focar em uma alocação mais conservadora, priorizando ativos de renda fixa para garantir previsibilidade nos pagamentos futuros. O montante investido em renda variável entre janeiro e novembro de 2024 foi de 27,88%, resultando em prejuízos de 9,04%, o que representa perdas mais acentuadas em comparação a períodos anteriores, incluindo a crise causada pela Covid-19.

Os rendimentos de renda fixa foram abaixo dos padrões observados nos anos anteriores, mesmo com taxas de juros elevadas, alcançando 7,79%. Em anos anteriores, como 2021 (10,49%), 2022 (12,43%) e 2023 (11,21%), os resultados foram mais favoráveis. A percepção sobre a má distribuição dos ativos é compartilhada por Cássio Landes, especialista da Valor Investimentos, que indica que uma menor alocação em renda variável poderia ter ajudado a mitigar os impactos negativos enfrentados pela Previ.

NOTÍCIAS RELACIONADAS
- Publicidade -

NOTÍCIAS MAIS LIDAS

error: Conteúdo protegido !!