Uma equipe de astrônomos de diversas partes do mundo identificou um objeto na Via Láctea que emite pulsos de ondas de rádio e raios X a intervalos de 44 minutos. Denominado ASKAP J1832−0911, este objeto apresenta características incomuns que desafiam os modelos atuais de objetos compactos, não se encaixando nas definições habituais de estrelas de nêutrons ou anãs brancas.
A descoberta foi feita utilizando o radiotelescópio Australian Square Kilometre Array Pathfinder (ASKAP), que faz parte de um levantamento voltado à busca de fontes de rádio variáveis e lentas no céu. O ciclo de emissão do objeto foi medido em 2.656,2412 segundos, o que equivale a aproximadamente 44,3 minutos. ASKAP J1832 faz parte de uma classe de objetos identificada em 2022, conhecida como “transientes de rádio de longo período”, que se caracterizam por suas variações em escalas de tempo muito mais longas do que os pulsares tradicionais.
Uma descoberta inesperada ocorreu durante uma observação do Observatório de Raios X Chandra, da NASA. Em fevereiro de 2024, ao direcionar o telescópio para uma área próxima à localizada de ASKAP J1832−0911, os cientistas identificaram uma fonte de raios X que mostrava um padrão de emissão coincidente com o do objeto, seguindo o mesmo intervalo de 44 minutos, algo sem precedentes para este tipo de fenômeno. Essa sincronia sugere uma origem comum ou uma conexão magnética entre as emissões.
As características observadas tornam a classificação de ASKAP J1832 um desafio. O objeto não se comporta como um pulsar típico, já que sua intensidade de emissão de rádio é muito superior à esperada apenas pela rotação. Além disso, não se encaixa como uma anã branca isolada nem em sistemas binários conhecidos, que costumam ter emissões de raios X mais fracas e rádio menos intenso.
Duas principais hipóteses surgem em relação à natureza do objeto: ele pode ser um magnetar antigo, que é uma estrela de nêutrons com um campo magnético extremamente forte, ou então uma anã branca ultra-magnetizada, possivelmente parte de um sistema binário. Ambas as explicações levantam desafios teóricos, especialmente no caso da anã branca, onde o campo magnético necessário seria o mais forte já registrado para esse tipo de estrela na Via Láctea.
Durante um período de seis meses, os cientistas notaram uma queda significativa na intensidade das emissões tanto de rádio quanto de raios X, um comportamento que nunca havia sido observado anteriormente em objetos dessa natureza. ASKAP J1832 está posicionado no que parece ser um remanescente de supernova, mas os pesquisadores acreditam que essa associação é meramente coincidente, descartando uma conexão física entre os dois.
A descoberta indica a possibilidade de que outros transientes de rádio de longo período também possam emitir raios X, mas que ainda não tenham sido identificados devido à falta de observações simultâneas. Registros futuros em diferentes faixas do espectro eletromagnético poderão ajudar a esclarecer a origem e o funcionamento desses objetos enigmáticos.