Um grupo de cientistas do Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM) demonstrou empiricamente que a conservação da biodiversidade está atrelada ao investimento em ciência e tecnologia. A pesquisa, que teve início há quase uma década, focou na investigação de microrganismos de quatro biomas brasileiros, resultando no catalogamento de 1.900 espécies cujos genomas foram sequenciados. Essas espécies foram submetidas a testes exploratórios para elucidar suas funções no ecossistema. Dentre elas, uma bactéria, denominada UBP4, se destacou devido ao potencial impacto econômico que pode ter no setor de biocombustíveis.
A bactéria UBP4 é capaz de produzir uma enzima chamada CelOCE (Cellulose Oxidative Cleavage Enzyme), que pode aumentar em 20% a produção de qualquer biocombustível, sem que seja necessário aumentar a quantidade de matéria-prima utilizada. Um dos principais desafios do agronegócio é maximizar a produtividade sem expandir a área cultivada. A pesquisa foi considerada oportuna, especialmente diante do aquecimento global e da crise climática, pois a elevação na produção de combustíveis sustentáveis é altamente relevante tanto economicamente quanto ambientalmente.
Recentemente, o Brasil registrou um pico nas emissões de carbono, conforme dados do Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus, que monitora esse setor há 20 anos. O Brasil ocupa a sexta posição mundial na emissão de gases de efeito estufa, enquanto China, EUA e Índia lideram o ranking. A biodiversidade de microrganismos é valorizada, como enfatiza Murakami, que publicou um artigo sobre a nova enzima na revista científica Nature.
Embora menos conhecidas em comparação com animais e plantas, as bactérias desempenham funções cruciais na natureza e na saúde humana. Um exemplo são os microrganismos que habitam o trato intestinal, fazendo parte da microbiota, que contribui para recuperar energia a partir da fermentação de carboidratos não digeríveis. O equilíbrio dessa microbiota é considerado fundamental para a saúde humana.
Atualmente, as refinarias utilizam o fungo filamentoso Trichoderma para a produção de etanol a partir de resíduos agroindustriais. A enzima oriunda da biodiversidade brasileira apresenta maior eficiência, podendo elevar a produção de etanol de 10% (atualmente alcançada com Trichoderma) para até 20%. O centro de pesquisas já recebeu propostas para desenvolver essa tecnologia em escala industrial.