Em um evento online realizado nesta segunda-feira, o diretor de Política Monetária do Banco Central, Nilton David, afirmou que a principal meta da instituição é alcançar a inflação de 3%. Além disso, enfatizou a importância de suavizar as flutuações nos ciclos econômicos. Segundo ele, “o Banco Central vai buscar o caminho que for mais razoável para se chegar a esses 3%, considerando as consequências dessa decisão”.
David destacou que em dezembro do ano anterior, o Banco Central chegou à conclusão de que uma abordagem mais agressiva teria resultados positivos para a ancoragem das expectativas e permitiria uma elevação mais rápida da taxa de juros para um patamar restritivo. No final de 2024, a Selic foi aumentada em 1 ponto percentual, com previsão de novos aumentos semelhantes nos meses de janeiro e março.
No entanto, ele apontou que essa estratégia de aumento rápido das taxas não permite observar de imediato os impactos da política monetária devido a defasagens. “O questionamento no momento é como se comportará a inflação nos próximos meses, onde a expectativa é que permaneça elevada, assim como a dinâmica das expectativas e ações do mercado. A calibração das decisões será baseada nisso”, explicou.
David reiterou que é necessário estabelecer a taxa Selic em um nível ligeiramente mais restritivo do que o necessário, para que surta efeito em todos os agentes econômicos, visto que algumas empresas têm acesso a crédito mais barato por meio de incentivos. Ele afirmou que, embora a desaceleração da atividade econômica seja um fator a ser considerado, a condução da taxa de juros deve ser guiada pela inflação. O diretor também mencionou que um “pouso suave” para a economia brasileira é um desafio.
Durante o evento, David observou que, apesar da valorização do real no primeiro trimestre, as expectativas de inflação no relatório Focus aumentaram. Ele destacou que o Banco Central não faz avaliações sobre as futuras oscilações cambiais, que são impactadas pelos níveis de inflação. “Os participantes das pesquisas podem não perceber que a mudança foi permanente; talvez seja temporária e outras variáveis tenham compensado a pressão sobre a moeda”, comentou.
O diretor também mencionou que, sob condições normais, a volatilidade histórica da taxa de câmbio é de 1% ao dia, o que significa que o desvio padrão do dólar entre reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) gira em torno de 10%. “Não é por acaso que o Banco Central enfatiza que não há uma relação mecânica entre câmbio e política monetária”, acrescentou, destacando que seria imprudente alterar o direcionamento da política monetária com base em variações cambiais que podem representar apenas ruído no mercado.
Em relação à interação entre política monetária e medidas macroprudenciais, David enfatizou que existe uma separação significativa entre essas áreas no Banco Central, descrevendo a divisão como “quase uma obsessão”. Ele afirmou que, embora mudanças na política monetária possam desencadear questões macroprudenciais, a prioridade sempre será garantir que a política monetária mantenha seu foco original.
David também afirmou que a correlação entre ações e taxa de juros deve ser restaurada no médio e longo prazo. Ele mencionou que a atual discrepância parece ser resultado da tomada de riscos em resposta às novas políticas do governo dos Estados Unidos, liderado por Donald Trump. O diretor considerou esse fenômeno como algo inusual, mas prevê que a correlação retornará eventualmente, mesmo que o ruído persista por mais tempo.
Quanto à demanda por crédito, o diretor projetou que o recente aumento no interesse por crédito está perto de seu auge. Isso se deve a fatores idiossincráticos, como mudanças legislativas e a realocação de recursos, com quase R$ 400 mil saindo de fundos multimercados para o mercado de crédito. Ele observou que há uma tendência global de reduzir a dependência dos bancos na oferta de crédito, o que tem promovido procedimentos que exigem mais capital e aumentam os custos para instituições financeiras.
Nessa conjuntura, o mercado busca alternativas para garantir que o crédito chegue aos tomadores finais. David destacou que a regulação combinada com fatores conjunturais, como o aumento das taxas de juros e a realocação de fundos, contribui para essa dinâmica. Ele também mencionou que a promoção de papéis de crédito no Brasil convenceu investidores a optar por financiamento mais barato localmente do que no exterior.
O diretor comentou ainda que, atualmente, o Brasil não possui um passivo externo relevante e que é possível avaliar a diferença nos custos de crédito entre o país e o exterior. Ele observou que a vulnerabilidade externa do Brasil diminuiu significativamente, concluindo que os preços do crédito no país não devem se manter desconectados da realidade internacional por muito tempo e que as taxas acabarão por convergir.
Por fim, David enfatizou que as mudanças regulatórias conforme diretrizes de Basileia não afetam apenas o Brasil, mas são uma tendência global em busca de estabilidade econômica e redução de riscos sistêmicos. Essa evolução recente trouxe novas oportunidades para investidores brasileiros, acompanhadas de uma alteração temporária nos preços do crédito.