A partir deste sábado (01), o Congresso Nacional terá dois presidentes que apresentam características bastante distintas em relação aos que os precederam. Enquanto os membros da base governista antecipam uma interação mais positiva com Hugo Motta (Republicanos-PB) em comparação a Arthur Lira (PP-AL), no Senado a expectativa é de um ambiente mais desafiador com Davi Alcolumbre (União-AP assumindo o lugar de Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Motta é visto como uma figura mais amigável e acessível ao diálogo, ao passo que Lira gerou momentos de impasse e também facilitou ações em relação ao governo.
Em um dia de votação, o gabinete da presidência da Câmara servirá rabanadas e outros delícias. A análise aponta que a normalidade é esperada com Motta, enquanto negociações com Alcolumbre podem ser mais complexas. Lira sugeriu que o governo selecione um ministro que esteja alinhado com Lula para 2026. Desde 2011, Motta acumula experiência no Congresso e conquistou o apoio de 18 dos 20 partidos representados na Câmara. Os governistas acreditam que a dinâmica com Motta será bastante diferente da anterior. Contudo, esse bom relacionamento pode depender do resultado final da reforma ministerial que o governo está planejando.
Isnaldo Bulhões (AL), líder do MDB, surge como um dos aliados mais próximos de Motta e possui chances de assumir a Secretaria de Relações Institucionais, substituindo o ministro Alexandre Padilha (PT-SP). O relacionamento entre Padilha e Lira não era o melhor, e foi Lira quem promoveu a candidatura de Motta como a única de seu grupo, desconsiderando aliados próximos, incluindo Elmar Nascimento (União-BA). A nomeação de Isnaldo representaria a inclusão do Centrão na estrutura do governo, além de estabelecer uma conexão direta com Motta em uma posição que evidencia a articulação entre o Executivo e o Legislativo. Simultaneamente, Motta se aproximou do bolsonarismo para sua eleição e será cobrado para impulsionar pautas relevantes para este grupo, como a proposta de anistia para os condenados de 8 de janeiro. O equilíbrio entre esses interesses divergentes representsará um dos principais desafios para o novo presidente da Câmara.
No Senado, a dinâmica é considerada mais complicada. Rodrigo Pacheco, conhecido como “conciliador” e “estadista”, deixa o cargo, enquanto Davi Alcolumbre, um dos senadores que mais movimenta a casa, assume. Alcolumbre é visto como um político mais voltado para os interesses dos grupos tradicionais, o que pode acirrar a disputa por emendas parlamentares. Assim como Motta, ele conseguiu apoio entre diferentes partidos e sua votação deve ser significativamente superior aos 42 votos que obteve em sua primeira eleição para a presidência do Senado, em 2019. Senadores costumam comentar a preferência de Alcolumbre por encontros com colegas, sempre acompanhados de boa comida e bebida.
Pacheco construiu um relacionamento próximo com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nos últimos dois anos. Assim como Lira, ele também está sendo considerado para ocupar um ministério, mas Lula já projeta planos mais ambiciosos para ele em direção a 2026, visando uma aliança para o governo de Minas Gerais. Alcolumbre, por outro lado, não conta com essa proximidade e assume a presidência do Senado em um cenário de oposição mais fortalecida em relação ao período de Pacheco. O PL, por exemplo, terá a vice-presidência do Senado e a presidência da Comissão de Segurança Pública, que aborda questões importantes para o partido. A Comissão de Direitos Humanos deve ter a senadora Damares Alves (DF) indicada pelos Republicanos, substituindo o petista Paulo Paim (RS). Além disso, é importante destacar que, apesar das diferenças com o governo e com a oposição, tanto Motta quanto Alcolumbre mantêm um bom relacionamento entre si, o que pode fortalecer a atuação do Congresso como um todo diante dos outros poderes e facilitar a colaboração entre as duas casas.