Alvo de várias investigações, o ex-presidente Jair Bolsonaro tem aumentado sua presença em entrevistas, especialmente em meios de comunicação dos Estados Unidos, após a reinauguração de Donald Trump como presidente. Bolsonaro tem seguido um padrão em suas declarações, que inclui temas como uma alegada perseguição judicial e suas aspirações políticas para o futuro.
Em uma entrevista recentemente divulgada, ele mencionou que “dorme bem”, embora reconheça que é apenas uma questão de tempo até que as investigações da Polícia Federal avancem contra ele. Bolsonaro tem buscado fortalecer a narrativa de que vem enfrentando represálias semelhantes às que Trump sofreu nos últimos anos, fazendo uma comparação entre as invasões ao Capitólio, em 2021, e os eventos de 8 de janeiro de 2023, em Brasília. Ele foi indiciado em três investigações: por suposta fraude no cartão de vacinação, pelo recebimento de joias sauditas e, mais seriamente, por sua participação na tentativa de golpe após a vitória de Lula nas eleições de 2022. O ex-presidente também comentou sobre as declarações de seu ex-ajudante de ordens, Mauro Cid, considerando-as “absurdas” e sugerindo que Cid estaria sendo chantageado. Em uma gravação, o delator nega ter utilizado a palavra “golpe” e expressa sua indignação em relação ao conteúdo das delações.
Referente ao seu futuro político, Bolsonaro reafirmou que ele é o único nome da direita capaz de derrotar Lula nas eleições de 2026. Devido a uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele está inelegível até 2030. Com o auxílio do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), ele busca ampliar discussões com entidades internacionais para reforçar a narrativa de que é alvo de perseguição política, e essa campanha de entrevistas internacionais faz parte dessa estratégia.
Bolsonaro tentou participar da posse de Trump, mas sua solicitação foi negada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), visto que seu passaporte está retido há quase um ano em razão das investigações sobre a tentativa de golpe.
O padrão de declarações tem sido consistente em outras entrevistas que ele concedeu. Em uma recente ao The New York Times, Bolsonaro revelou sentir-se “vigiado o tempo todo” devido à investigação sobre a tentativa de golpe e descreveu sua inelegibilidade como um “estupro da democracia”. Ele comentou: “Não estou preocupado em ser julgado. Minha preocupação é quem vai me julgar”.
Além disso, ele manifestou apoio a algum de seus filhos competindo por uma vaga no Congresso, mas não à presidência. Com a inelegibilidade de Bolsonaro, aliados estão considerando lançar Eduardo Bolsonaro como candidato em uma chapa com o pai. Caso Bolsonaro tenha sua candidatura cassada, Eduardo poderia assumir a posição, semelhante ao ocorrido nas eleições de 2018, quando Fernando Haddad se tornou o cabeça de chapa após a inelegibilidade de Lula.
Por fim, em um gesto de alinhamento com o novo presidente dos Estados Unidos, Bolsonaro elogiou a decisão da Meta de encerrar iniciativas de moderação de conteúdo. Em uma entrevista dada ao The Wall Street Journal no final de novembro, ele expressou que vê a eleição de Trump como uma “oportunidade” para seu futuro político, afirmando que o apoio do republicano poderia resultar em sanções contra o governo Lula, facilitando seu retorno à presidência, mesmo com a inelegibilidade imposta. A crença de Bolsonaro é que Trump poderia influenciar juízes brasileiros a reverter a decisão que o tornou inelegível.