Imagens capturadas por câmeras de segurança exibem um ex-funcionário da Igreja Nossa Senhora do Carmo cometendo o furto de obras religiosas. O indivíduo é alvo de investigação da Polícia Civil de São Paulo, que apura o roubo e a interceptação de diversos itens sacros provenientes desta e de outras igrejas na cidade. As gravações mostram o momento em que o responsável pela decoração do altar para cerimônias adentra uma sala que abriga os objetos de maior valor da igreja no dia 16 de janeiro deste ano. Essa sala está ausente de câmeras de vigilância.
Após algumas minutos, o suspeito é visto deixando a sala com um objeto encoberto por tecidos nos braços. Representantes da igreja confirmaram que se trata de um crucifixo de prata maciça que havia desaparecido. Este objeto possui registro como patrimônio histórico e pode alcançar preços elevados no mercado ilegal. As gravações das câmeras externas mostram o suspeito colocando o item no porta-malas de seu veículo.
A ausência do crucifixo foi percebida por outros colaboradores, que relataram o ocorrido ao 1° Departamento de Polícia no último sábado (22). Estima-se que as obras em questão sejam anteriores ao século 18 e tenham um “valor altíssimo” no comércio clandestino, conforme declaração de Mateus Rosada, professor de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com as imagens, o especialista em arte sacra observou que parte das peças se assemelha a itens de igrejas da América Latina, apresentando ornamentos que remetem a basílicas históricas de Cusco, no Peru. Além disso, algumas obras possuem características de escolas artísticas do Equador e outras são típicas do período colonial brasileiro.
O suspeito foi levado à delegacia e, durante o depoimento, alegou que as obras são heranças ou itens adquiridos em antiquários. As investigações, inicialmente divulgadas, revelaram que ele atuou em várias igrejas históricas de São Paulo. Recentemente, o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) autorizou a quebra do sigilo dos dados do celular do ex-funcionário. Análises preliminares sugerem que ele trocou mensagens com possíveis compradores das obras. A Polícia Civil também contatou o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para acompanhar o desenvolvimento do caso. A Igreja da Ordem Terceira do Carmo informou que está avaliando a situação na esfera policial, aguardando os resultados da investigação.
A Igreja da Ordem Terceira do Carmo é uma das mais emblemáticas de São Paulo. A fundação dos Carmelitas, a parte mais antiga da Ordem do Carmo, teve início em 1594 nesta cidade. O edifício histórico apresenta uma arquitetura que combina elementos da tradição colonial brasileira com referências à fundação e colonização da capital paulista. A construção é berço de obras artísticas do Padre Jesuíno do Monte Carmelo, presentes nos forros da nave, da capela-mor e do coro, além de ser reconhecida por seu acervo de quadros remanescentes da antiga Capela do Recolhimento de Santa Tereza. A igreja foi inaugurada oficialmente em 1934 e foi tombada pelo governo de São Paulo em 2021.
