4 maio 2025
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Camiseta Protect the Dolls: O Eco da Revolta em Cada Estampa

Na era digital, protestar de forma analógica tem um aspecto revolucionário, embora seja quase inevitável que tudo seja concebido para ressoar nas redes sociais. Recentemente, um fenômeno emergiu nas passarelas e se espalhou pelos tapetes vermelhos, sendo exibido por celebridades e amplamente discutido tanto online quanto offline. Criada pelo designer americano Conner Ives, a camiseta com a inscrição “Protect the Dolls” se tornou um manifesto em apoio às pessoas trans, consolidando-se como um marco nos protestos que transformam a vestimenta em uma bandeira política.

Durante a Semana de Moda de Londres, em fevereiro, a iniciativa de Conner Ives começou a ganhar destaque, com o estilista usando uma camiseta que trazia a frase ao final de seu desfile de outono-inverno. A simplicidade da peça branca, decorada com a inscrição em letras grandes, contrastava com a força da mensagem. O termo “bonecas”, dentro da cultura queer, é uma forma carinhosa de se referir a mulheres trans, cujas raízes remontam à cultura dos anos 1980. Esta ideia surgiu como uma resposta a medidas implementadas por Donald Trump, que, por decreto, estabeleceu apenas os gêneros masculino e feminino. Em seguida, a Suprema Corte do Reino Unido definiu legalmente “mulher” com base exclusivamente no sexo biológico, excluindo as mulheres transgênero.

Como ocorre frequentemente com modas, as celebridades rapidamente se envolveram, aumentando a popularidade da camiseta. Entre os que integraram a lista de influenciadores que usaram a peça durante eventos públicos e nas redes sociais, destacam-se Tilda Swinton, Addison Rae e Pedro Pascal, que exibiu a camiseta durante a estreia do filme “Thunderbolts” em Londres, alguns dias após a decisão da Suprema Corte britânica. Pascal, cuja irmã, Lux Pascal, é uma mulher trans, se uniu à comunidade em oposição a J.K. Rowling, autora de “Harry Potter”, que elogiou a decisão judicial. Ele declarou: “Perdedora!”.

Historicamente, as camisetas passaram a carregar mensagens somente a partir da metade do século XX, quando inovações na serigrafia permitiram a criação de gravações gráficas, transformando essas peças em verdadeiras telas de expressão. Desde então, surgiram protestos de diversas naturezas. Nos anos 2010, o conceito ganhou novas dimensões quando a estilista Maria Grazia Chiuri usou o título do livro “We Should All Be Feminists”, de Chimamanda Ngozi Adichie, para criar uma camiseta da Dior, que se tornou um dos produtos mais vendidos da marca francesa.

No Brasil, a moda também é utilizada de maneira diversificada como ferramenta de expressão. Em 2020, figuras públicas como Angélica, Mariana Ximenes e Cris Vianna eram frequentemente vistas com blusas que apresentavam emocionantes frases de Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, que faleceu em um trágico incidente no Recife — um caso que teve grande repercussão nacional. No caso de “Protect the Dolls”, independentemente das diversas opiniões sobre o uso do termo “boneca”, o movimento conseguiu reunir um amplo espectro de pessoas em torno de uma mensagem central de solidariedade. A deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que se identifica como mulher trans, exemplifica essa união ao afirmar que “é mais um gesto em prol da necessidade de alertar o mundo sobre os horrores praticados contra nossa comunidade”.

Em tempos de intensa atividade política e social, a moda frequentemente assume um papel ativo na disseminação de ideias de forma acessível e compreensível. Desde camisetas com mensagens antinucleares até os manifestos feministas estampados, a história demonstra como uma peça de roupa pode se transformar em um veículo poderoso para a defesa de direitos e a união de pessoas em torno de uma causa. Valentina Sampaio, primeira modelo trans a desfilar para a Victoria’s Secret, ressalta que “mais do que camisetas, são uma forma de transmitir uma mensagem e gerar união”, referindo-se ao fenômeno “Protect the Dolls”. Diante das turbulências do mundo contemporâneo, é provável que muitas outras camisetas surgirão para expressar novas reivindicações, indicando uma moda que promete perdurar.

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