3 março 2025
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Celebrando 70 Anos de Criatividade: Edições Especiais do Golpis

Tom Ripley, um dos personagens mais intrigantes da literatura e do cinema, completará 70 anos em 2025. O romance “O Talentoso Ripley”, que introduziu o personagem, foi lançado em março de 1955, quando Patricia Highsmith já se destacava como uma autora promissora aos 34 anos. Seu primeiro livro, “Pacto Sinistro”, publicado em 1950, se tornou um sucesso, ganhando atenção do público e da crítica, além de inspirar uma adaptação cinematográfica por Alfred Hitchcock em 1951. A série “Ripley” continua a fascinar, com a editora Intrínseca relançando os três primeiros volumes da série agora em março: “O Talentoso Ripley”, “Ripley Subterrâneo” e “O Jogo de Ripley”. As obras subsequentes, “O Garoto que Seguiu Ripley” e “Ripley Debaixo d’Água”, que estavam fora de circulação no Brasil, serão publicadas no próximo ano, completando assim a clássica pentalogia.

Os leitores que acompanharem a série na ordem perceberão a evolução do personagem. No primeiro livro, Ripley é um jovem estelionatário à margem do glamour de Nova York na década de 1950. Por um golpe de sorte, ele é escolhido para uma missão inusitada na Itália. Nos volumes subsequentes, especialmente no terceiro, Ripley é retratado como um homem cosmopolita e poliglota, com fluência em várias línguas e um vasto conhecimento em arte e música clássica. Ele leva uma vida luxuosa, casado com uma herdeira francesa, ocupando-se de pintura e jardinagem em uma casa rural na França. Suas atividades ilícitas também se tornaram mais elaboradas, incluindo falsificações de obras de arte e operações financeiras clandestinas.

Estabelecer comparações entre Ripley e a vida de sua criadora é um tema recorrente nas biografias de Highsmith. Ela nasceu como a filha indesejada de uma mãe solteira em uma família em dificuldades financeiras. Assim como Ripley, tinha uma fascinação pela elite, embora também desprezasse suas normas. Seu primeiro sucesso permitiu que viajasse para a Europa, onde se encantou pela Costa Amalfitana, uma fonte de inspiração para a fictícia cidade de Mongibello, descrita no primeiro livro da série.

Em um contexto em que a homossexualidade era criminalizada em muitos países, inclusive nos Estados Unidos, Highsmith não se assumiu publicamente. Apesar de ter se relacionado com homens, nunca escondeu sua orientação por mulheres. O preconceito e a pressão relacionados à sua sexualidade são refletidos em Ripley, que demonstra atração por outros homens e enfrenta conflitos sobre sua masculinidade, agregando uma camada de complexidade ao personagem. Segundo anotações da autora, “Escrever é um substituto para a vida que não posso viver”.

Não há evidências de que Highsmith tenha cometido assassinatos, mas ela explorou seu lado mais obscuro na criação de narrativas e personagens violentos, apresentando uma psicopatia que rivaliza com a de outros mestres do gênero. Conhecida por sua personalidade difícil e tendências misantrópicas, Highsmith criou um protagonista carismático. Ripley é um assassino metódico, mas, ao mesmo tempo, possui habilidades sociais que facilitam sua interação com os outros. A trajetória de um órfão pobre que subverte a ideia de “self-made man” alçada na cultura anglo-saxã para se tornar um “self-made pilantra” continua a ressoar com os leitores contemporâneos. Isso se comprova, além da constante reedição dos livros, pela recente produção da Netflix, que traz Andrew Scott no papel principal, destacando uma adaptação fiel à obra original.

Interpretar Tom Ripley, com sua complexidade psicológica e nuances de violência, é uma tarefa desafiadora. Matt Damon conseguiu capturar a essência do personagem em “O Talentoso Ripley”, filme de 1999. Em “O Retorno do Talentoso Ripley” (2002), John Malkovich buscou, sem sucesso, resgatar a qualidade do material, enquanto Alain Delon interpretou um Ripley intrigante em “O Sol por Testemunha”, apenas cinco anos após a publicação do livro. Influenciada por Meursault, protagonista de “O Estrangeiro”, de Camus, Highsmith criou um anti-herói ainda mais perigoso, completando um jogo moral que leva o público a simpatizar com um vilão. Essa habilidade de criar personagens que provocam uma forte ligação emocional e uma experiência rica e marcante para os leitores é uma das características distintivas da autora. Aos 70 anos, a figura de Ripley continua a exercer sua influência e fascínio.

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