A proibição do uso de celulares nas escolas não teve impacto positivo nas notas ou na saúde mental dos alunos, conforme revela um novo estudo da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, publicado no periódico Regional Health Europe da Lancet. Este é o primeiro estudo que analisa esse tema de forma abrangente, e as conclusões indicam que as tentativas de limitar o uso de telefones celulares durante o horário escolar não resultaram em uma diminuição do tempo que as crianças passam em dispositivos móveis ao longo do dia, o que não contribuiu para a melhoria da saúde mental dos alunos.
O estudo concluiu que não existem evidências que apoiem que as políticas de restrição ao uso de celulares nas escolas, em suas formas atuais, tragam benefícios à saúde mental e ao bem-estar dos adolescentes, nem em relação a outros resultados associados. As restrições promoveram uma redução no uso de smartphones e redes sociais de apenas 40 minutos e 30 minutos por dia, respectivamente, uma vez que os alunos compensaram esse tempo em casa. Entretanto, observa-se que um maior tempo gasto em celulares e redes sociais está associado a um desempenho acadêmico inferior, pior qualidade do sono, comportamentos inadequados em sala de aula e diminuição da atividade física.
Victoria Goodyear, principal autora do estudo, enfatiza que os achados não são uma crítica à proibição dos smartphones nas escolas, mas reforçam que tais restrições, por si só, não são suficientes para mitigar os impactos negativos do uso excessivo de celulares. Ela ressalta a necessidade de implementar estratégias que contribuam para a redução do tempo que alunos passam em seus aparelhos. A pesquisa avaliou 1.227 estudantes de 30 escolas diferentes na Inglaterra ao longo de mais de 12 meses.
A discussão sobre o uso de celulares nas escolas ocorre em diversas partes do mundo. Dados da ONU mostram que aproximadamente 25% das nações já adotaram legislações que proíbem o uso de dispositivos eletrônicos nas instituições de ensino. A França, por exemplo, ficou entre os primeiros países a implementar uma proibição do uso de smartphones para alunos com menos de 15 anos, uma regra que entrou em vigor em 2018 e que abrange também os intervalos, com exceções para alunos com deficiência que necessitam dos aparelhos.
No Brasil, foi sancionada a lei 15.100/25 pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva, que proíbe o uso de celulares nas escolas, válida desde janeiro. Essa legislação proíbe o uso de dispositivos pessoais, incluindo celulares, durante aulas, recreios e intervalos em todas as etapas da educação básica, que incluem pré-escola, ensino fundamental e ensino médio. Países como Espanha, Grécia e Dinamarca também implementaram proibições similares nas instituições de ensino.