A China anunciou na quarta-feira (5) a liberação de novos estímulos fiscais, com o objetivo de impulsionar o consumo e amenizar os efeitos da intensificação da guerra comercial com os Estados Unidos, buscando um crescimento econômico de 5% ou mais para este ano. O primeiro-ministro Li Qiang, durante a abertura da reunião anual do Parlamento, destacou que “mudanças sem precedentes em um século estão em curso em todo o mundo, em um ritmo acelerado”. Ele também mencionou que um “ambiente externo cada vez mais complexo e severo pode impactar significativamente a China em áreas como comércio, ciência e tecnologia”.
O conflito comercial com a administração do ex-presidente Donald Trump tem representado uma ameaça para a economia chinesa, especialmente para seu setor industrial, que enfrenta fraqueza na demanda interna e desafios no mercado imobiliário, aumentando a vulnerabilidade econômica. As tarifas criadas por Trump afetaram diversas nações, interrompendo uma ordem comercial global estruturada durante décadas, fundamental para o modelo econômico de Pequim.
As autoridades chinesas enfrentam a pressão de estimular o consumo, buscando aliviar as pressões deflacionárias e reduzir a dependência da economia em relação a exportações e investimentos. O termo “consumo” foi utilizado 31 vezes na declaração de Li, um aumento em relação às 21 menções do ano anterior, enquanto a palavra “tecnologia” apareceu 28 vezes, levemente acima das 26 ocorrências de 2024, conforme análises da Guotai Junan. Segundo Tilly Zhang, analista de tecnologia da Gavekal Dragonomics, o reconhecimento do consumo como principal prioridade mostra uma possível mudança na estrutura econômica, visando um equilíbrio macroeconômico mais sustentável.
Entretanto, a China já havia expressado interesse em mudar para um modelo de crescimento focado no consumidor há mais de dez anos, sem ter alcançado resultados significativos até agora, o que gera ceticismo entre os investidores em relação a essa nova abordagem. A meta de crescimento de cerca de 5% para 2025 e o aumento do déficit orçamentário, projetado em aproximadamente 4% do PIB, foram confirmados por Li, juntamente com a intenção de emitir 1,3 trilhão de iuanes (equivalente a US$ 179 bilhões) em títulos especiais do Tesouro, maior que o montante de 1 trilhão de iuanes emitidos em 2024. Os governos locais estão autorizados a emitir 4,4 trilhões de iuanes em dívidas especiais, um aumento em relação aos 3,9 trilhões de iuanes registrados antes.
Além disso, está previsto que Pequim arrecade 500 bilhões de iuanes para recapitalizar os principais bancos estatais. Especialistas afirmam que os montantes maiores de dívida e gastos visam atenuar as consequências das tarifas. Os analistas do ANZ ressaltaram que ajustes orçamentários podem ser necessários até o meio do ano, caso o crescimento sofra impacto devido às disputas comerciais. Do total de 300 bilhões de iuanes destinados a um programa de subsídios recentemente ampliado para veículos elétricos, eletrodomésticos e outros bens, o discurso de Li apresentou escassos detalhes sobre novos apoios direcionados às famílias. Harry Murphy Cruise, da Moody’s Analytics, observou que, apesar do sucesso em fomentar gastos nesses setores, a demanda geral permanece fraca, evidenciando a necessidade de uma estratégia mais abrangente para estimular o consumo.