Nos últimos dez anos, pesquisadores identificaram um fenômeno fascinante: pulsos de rádio provenientes da Via Láctea que ocorrem a cada duas horas, assemelhando-se a batimentos cardíacos cósmicos. Essas explosões de rádio se manifestam em intervalos que variam de 30 a 90 segundos, originando-se da direção da constelação Ursa Maior, onde se encontra o Grande Carro. Recentemente, astrônomos descobriram a origem desses pulsos de rádio: uma estrela morta, classificada como anã branca, que orbita próximo a uma estrela anã vermelha menor e mais fria.
As estrelas anãs vermelhas são as mais abundantes no universo. O sistema estelar em questão, denominado ILTJ1101, apresenta uma interação próxima entre suas estrelas, cujos campos magnéticos interferem, gerando o que é conhecido como transiente de rádio de longo período (LPT). Anteriormente, tais explosões de rádio eram associadas apenas a estrelas de nêutrons, que são os remanescentes densos resultantes de supernovas. Contudo, a nova pesquisa, publicada em um periódico científico, revela que o movimento das estrelas dentro de um sistema binário pode também gerar esses fenômenos raros.
A pesquisa foi conduzida por uma equipe liderada por uma pesquisadora da Universidade de Sydney. Em seu estudo, foi estabelecido pela primeira vez quais tipos de estrelas produzem esses pulsos de rádio, inserindo-os em uma nova categoria de ‘transientes de rádio de longo período’. As observações detalhadas dessas explosões radiantes e prolongadas representam apenas o início da descoberta, que pode oferecer novas perspectivas sobre os tipos de estrelas capazes de emitir sinais de rádio e sobre a dinâmica de sistemas estelares.
A cientista desenvolveu um método para identificar pulsos de rádio com duração de segundos a minutos a partir dos registros do Telescópio Low-Frequency Array (LOFAR), uma rede de radiotelescópios na Europa. Durante suas investigações, ela detectou um pulso individual em 2015 e subsequentemente encontrou mais seis pulsos na mesma área do céu, todos provenientes de uma anã vermelha tênue. A pesquisadora inicialmente duvidou que a estrela sozinha pudesse gerar ondas de rádio, sugerindo a influência de outro corpo celeste.
Esses pulsos diferem das explosões rápidas de rádio (FRBs), que são flashes extremamente luminosos de ondas de rádio que ocorrem em milissegundos e geralmente se originam fora da nossa galáxia. Embora algumas FRBs sejam recorrentes, muitas são eventos únicos. Os pulsos detectados no novo estudo possuem energias significativamente mais baixas e duram vários segundos, em comparação com a brevidade das FRBs. A equipe de pesquisa está investigando a possível existência de uma relação entre os transientes de rádio de longo período e as FRBs.
Seguindo com as análises, os pesquisadores observaram a anã vermelha utilizando telescópios em Arizona e Texas. Essas observações revelaram que a anã vermelha se movimenta rapidamente, em um padrão que corresponde ao intervalo de duas horas observado nos pulsos de rádio. Esse movimento é influenciado pela gravidade de sua companheira, a anã branca. Os dados coletados permitiram que a equipe medisse o movimento e determinasse a massa da estrela anã branca, que, em conjunto com a anã vermelha, está localizada a 1.600 anos-luz da Terra, orbitando ao redor de um centro de gravidade comum a cada 125,5 minutos.
Os pesquisadores sugerem que as pulsações podem ser geradas por duas possíveis causas: um campo magnético intenso da anã branca que emite pulsos regularmente ou a interação dos campos magnéticos entre as duas estrelas durante suas órbitas. A equipe pretende continuar suas observações do sistema ILTJ1101, buscando qualquer informação em luz ultravioleta e analisando as interações magnéticas durante eventos de pulsação. Ainda que os pulsos de rádio tenham cessado temporariamente, há a expectativa de que possam retornar no futuro.
A equipe também observou que outros grupos de pesquisa descobriram diversos sistemas geradores de pulsos longos de rádio, todos dentro da Via Láctea. Essa nova classe de fenômenos representa uma distinção em relação ao que se conhecia até então. Diferentemente das explosões curtas geradas por pulsares, os LPTs duram bastante tempo, de alguns segundos até quase uma hora. Especialistas argumentam que as fontes de rádio transientes têm sido cruciais para a astrofísica, ajudando a estabelecer conceitos fundamentais para a compreensão do cosmos.
A busca por pulsações de rádio com a ajuda de radiotelescópios avançados promete desvelar ainda mais mistérios do universo. Há expectativa sobre descobertas que possam incluir sinais de tecnoassinaturas, que são indícios de atividade de vida inteligente, uma linha de investigação que tem sido explorada por décadas.