A queda de neve no inverno em Camp Century, um site de pesquisa militar localizado na Groenlândia, ainda superava o derretimento no verão. Contudo, a expectativa de uma mudança nesse padrão climático poderia resultar na emergência de remanescentes potencialmente perigosos do local, configurando um risco ambiental não abordado por autoridades, conforme indicado em diversos estudos realizados na última década. Embora apenas algumas narrativas em primeira mão sobre a experiência no Camp Century tenham sido disponibilizadas, relatos de antigos participantes ajudam a trazer à luz suas peculiaridades.
Camp Century, frequentemente referido como uma “cidade sob o gelo,” representou um avanço notável na engenharia. Diferente das primeiras estações de pesquisa polar, geralmente construídas sobre a camada de gelo, Camp Century foi escavado abaixo dela. Equipamentos pesados tiveram um papel crucial na escavação de uma vasta rede de túneis. Infraestruturas pré-fabricadas foram erguidas dentro dessas cavidades subterrâneas, onde dormitórios, banheiro, laboratórios, refeitório, lavanderia e ginásio foram instalados. Um reator nuclear, transportado por uma distância significativa, era responsável por fornecer energia à base.
A vida em Camp Century, embora situada em um ambiente inóspito, se mostrou menos complicada do que os ocupantes inicialmente anteciparam. Dentro das instalações, mantinha-se uma temperatura quente e seca. Compreendendo que a maioria dos quase 200 homens tinha entre 20 e 45 anos, emergências médicas eram pouco frequentes. O lazer incluía desde estudos autodidatas até jogos de tabuleiro, além de refeições consideradas de qualidade.
O suprimento de água do acampamento, essencial para o funcionamento diário, era garantido por meio de um poço perfurado na camada de gelo. Durante sua operação, a quantidade necessária era imensa, chegando a aproximadamente 30.000 litros por dia, enquanto esgoto era devidamente bombeado para evitar contaminações. Após um breve período de funcionamento, o reator nuclear passou a operar com limitações devido ao aumento da radiação em certas áreas do acampamento. Medidas protetivas, como a adoção de chumbo, foram implementadas.
Com o passar do tempo, o Camp Century tornou-se um campo de testes para a pesquisa científica, abordando temas variados, como os impactos do campo magnético do planeta e a busca de inovações para prevenir interrupções tecnológicas. Ao mesmo tempo, o acampamento também serviu como um componente vital de uma operação militar secreta, o Projeto Iceworm, que visava à instalação de mísseis em uma rede de túneis subterrâneos.
No entanto, o projeto somente foi revelado publicamente em 1997, quando um conjunto de documentos foi desclassificado. A proposta original incluía uma vasta área que poderia operacionar até 600 mísseis. Embora nenhum míssil tenha sido efetivamente implantado em Camp Century, o desenvolvimento de armamentos nucleares constituiu uma fonte de tensão quando exposto ao público.
O legado do Camp Century reside fortemente nas pesquisas climáticas que ocorreram durante sua existência. Cientistas conseguiram extrair o primeiro núcleo de gelo em 1966, coletando dados essenciais que revelam informações climáticas que datam de mais de 100.000 anos. Estudiosos concordam que os dados obtidos ao longo dos anos têm sido vitais para compreender as mudanças climáticas e as implicações para o futuro do planeta.
À medida que os efeitos das mudanças climáticas se intensificam, questões emergentes sobre os resíduos deixados em Camp Century tornam-se cada vez mais relevantes. Resquícios de operações passadas, incluindo águas residuais radioativas, foram descartados no local ao longo dos anos. Embora monitores prevejam que o derretimento significativo não ocorra antes de 2100, a continuação das emissões e dos esforços para conter o aquecimento global é essencial.
Estudos mais recentes continuam a trazer novas visões, enquanto ações e medidas relacionadas a resíduos ainda precisam ser rigorosamente avaliadas. O CO2 da atmosfera e seu efeito no clima global também são temas de pesquisa em andamento, com a necessidade de um controle eficaz para evitar crises futuras cada vez mais emergindo no discurso científico.
