14 abril 2025
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Códigos de Vestuário: A Falta de Bolso nas Roupas Femininas em Comparação com as Masculinas

É comum ouvir trocas entre mulheres a respeito do vestuário, com comentários como “Adorei seu vestido” seguido de “Obrigada, ele tem bolsos!”. A inclusão de bolsos em peças da moda feminina tem gerado grande atenção, especialmente em eventos de destaque. Exemplos notáveis incluem Dua Lipa, que usou um vestido vintage da Chanel com bolsos no Met Gala de 2023, e Emma Stone, que preencheu os grandes bolsos do seu vestido vermelho da Louis Vuitton com pipoca, durante a celebração do 50º aniversário do programa “Saturday Night Live”.

Embora a presença de bolsos em vestidos e saias pareça uma inovação prática, a realidade é que muitas vezes isso não ocorre. É comum que essas peças sejam desenvolvidas sem bolsos, enquanto em calças e blazers, os bolsos são frequentemente pequenos ou inexistem, sendo, em algumas situações, meramente decorativos, como os bolsos falsos em jeans ou jaquetas. A busca por bolsos funcionais na moda feminina, no entanto, está em crescimento, com estilistas explorando essa demanda. Designers como Nicole McLaughlin, que utiliza materiais reciclados, e Erin Miller, que faz referências ao estilo Y2K, estão entre aqueles que trabalham para atender a esse desejo.

A desigualdade na presença de bolsos nos vestuários femininos em comparação aos masculinos é um tema que vem à tona em discussões públicas. A professora de design de vestuário da Escola de Design de Rhode Island, Hannah Carlson, afirma que a história dos bolsos revela tensões de gênero que persistem há séculos. A ausência de bolsos em roupas femininas é considerada por ela como uma reflexão de normas patriarcais que decidiram o que é considerado funcional e o que não é.

Os primeiros bolsos conhecidos surgiram em torno da década de 1550, costurados nas calças masculinas. Antes dessa época, ambos os gêneros carregavam seus pertences de maneira independente. Com a evolução da alfaiataria masculina, bolsos práticos tornaram-se comuns, enquanto as mulheres continuavam a utilizar bolsas amarradas a seus cintos. Durante o século XVIII, algumas mulheres que adotaram casacos com bolsos foram criticadas, e a utilização dos bolsos pelos homens foi associada a um espírito aventureiro, enquanto as mulheres eram ridicularizadas.

Nos séculos XVII e XVIII, a imagem dos bolsos femininos foi muitas vezes negativa e comparada a características femininas, refletindo atitudes da época sobre gênero e classe. A dualidade que envolvia o transporte de objetos tinha implicações complexas para as mulheres, e sua capacidade de carregar itens era vista de maneira menos engenhosa. Além disso, a identificação de bolsos como um elemento masculino se consolidou com o tempo, separando ainda mais as expectativas sociais sobre vestuário entre os gêneros.

O anseio por bolsos funcionais para mulheres remonta a movimentos significativos, como os sufragistas no início do século XX. Durante esse período, as mulheres começaram a questionar a restrição de liberdade que a falta de bolsos impunha em comparação com os homens. A evolução da moda no século XX, marcada pela adoção de silhuetas mais práticas e ajustadas, levou à introdução de bolsos nas vestimentas femininas, embora mudanças na estrutura social e na guerra tivessem um papel fundamental nessa transformação.

Com o passar do tempo, a moda feminina teve que se adaptar, incorporando bolsos em novas propostas, como peças desenhadas para a funcionalidade e estilo. No entanto, os estereótipos de gênero continuaram a permear o design, e muitas vezes os bolsos eram minimizados ou tornados decorativos, em vez de funcionais. Observações recentes indicam que, apesar das evoluções na moda, muitos modelos femininos de roupas ainda apresentam bolsos ineficazes ou inexistentes, levando a uma incessante discussão sobre a necessidade de espaços funcionais nas vestimentas.

A indústria da moda frequentemente assume que as mulheres usam bolsas, desconsiderando a inclusão de bolsos funcionais. Com isso, a função e a estética competem ao projetar roupas, e o espaço destinado a bolsos continua a ser visto como secundário. Embora algumas tendências atuais sugiram um retorno dos bolsos, sua falta histórica no vestuário feminino permanece um lembrete da desigualdade de gênero. Assim, ainda existe uma tensão entre a utilidade e a forma, deixando os bolsos como um símbolo persistente das disparidades entre os gêneros.

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