2 maio 2025
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Collor: O Grand Finale da Trajetória do Antigo Presidente

A Casa da Dinda, uma construção emblemática situada em um setor de mansões em Brasília, ainda exibe seu letreiro sob um portal branco, com a fachada adornada por plantas bem cuidadas. O ex-presidente Fernando Collor de Mello é seu ilustre proprietário. Em frente, localizado na mesma via, encontra-se um “centro de memória” onde Collor preserva todo o acervo de seus trinta meses de mandato. O acervo inclui uma ilustração dele com a faixa presidencial, uma biblioteca com cerca de 40 mil livros, além de uma coletânea de vídeos, fotografias e documentos. Esses materiais podem, um dia, compor um memorial. Collor expressou o desejo de ser lembrado como um homem “diferenciado” e “antecipado ao tempo”. Quando questionado sobre uma quantia que foi depositada em sua conta por um conhecido doleiro, afirmou não ter conhecimento sobre a origem do dinheiro e solicitou ao banco que o bloqueasse até que a polícia fosse informada.

Os gestos teatrais e a eloquência do ex-presidente poderiam fazer o público acreditar em um mal-entendido. Ao ser indagado sobre corrupção, Collor negou com veemência, afirmando: “Não sou”. No entanto, investigações revelaram que essas assertivas eram parte de um padrão de desinformação ao longo de sua carreira política, que se estendeu por mais de quatro décadas. As provas indicaram que ele recebeu 20 milhões de reais como parte de um esquema de corrupção. A propina foi utilizada para financiar um estilo de vida sofisticado. A verdade nunca foi um princípio valorizado por Collor. Em 24 de maio de 2023, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, rejeitou o último recurso de defesa e ordenou a detenção imediata de Collor, que foi condenado a oito anos e dez meses por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele se encontrava detido na Penitenciária Baldomero Cavalcante, em Maceió, em uma cela individual equipada com televisão e ar-condicionado.

A defesa do ex-presidente solicitou a conversão da pena para regime domiciliar, alegando idade avançada e questões de saúde, incluindo Parkinson, apneia do sono e transtorno bipolar. Collor utiliza diariamente oito medicamentos, entre os quais quatro são antidepressivos, e precisa de um dispositivo para respirar adequadamente durante o sono. A decisão sobre o pedido caberá ao Supremo Tribunal Federal, mas independentemente do resultado, este não é o desfecho esperado para um político que outrora foi considerado o mais influente do Brasil e uma esperança de mudança para milhões de eleitores. A trajetória de Collor, marcada por várias controvérsias, já indicava um futuro problemático. Ele foi eleito em 1989, prometendo modernizar o país após dois décadas de ditadura, e realizou cortes no governo, fechou estatais ineficazes, enfrentou interesses militares e implementou medidas de controle da hiperinflação, assim como reduziu protecionismo industrial.

Entretanto, ao mesmo tempo, Collor se beneficiava de um esquema corrupto, aprovado por ele, que funcionava em seu governo. Paulo César Farias, seu tesoureiro de campanha, extorquiu empresários com negócios na gestão, especialmente construtoras, exigindo altas quantias de propina em troca de contratos. Parte do valor arrecadado era direcionada a campanhas de aliados, enquanto outra parte sustentava o luxo da família presidencial. Collor se destacou por combater os “marajás”, servidores públicos que recebiam altos salários sem a devida produtividade, mas em sua vida pessoal, mantinha um estilo compatível com o deles. Em 1992, uma entrevista com seu irmão revelou a parceria entre Collor e Farias na extorsão de empresários e na manutenção de bens ocultos no exterior. Apenas sete meses após a publicação, o impeachment foi aprovado pelo Congresso. Mesmo após a saída do governo, as acusações de corrupção nunca foram formalmente julgadas devido a falhas jurídicas, permitindo a Collor retomar sua carreira política. Depois de cumprir a inelegibilidade, ele foi eleito senador por Alagoas em 2006.

No retorno a Brasília, Collor se aliou ao governo de Lula e, mais tarde, deu suporte ao governo de Dilma Rousseff em 2009. Em troca, teve a oportunidade de indicar diretores para a BR Distribuidora, uma subsidiária da Petrobras, onde se formou uma extensa rede de corrupção. A operação Lava-Jato revelou que Collor continuou a intermediar contratos para obter propinas, que alimentaram suas empresas em Maceió e financiaram uma frota de veículos luxuosos. Enquanto sua imagem de caçador de marajás se desintegrava, ele apostou na impunidade, acreditando que sua proximidade com o poder o protegeria. A Lava-Jato, por sua vez, impactou a elite política, resultando na prisão de Collor. Em 2016, ao perceber a fragilidade de Dilma, ele apoiou o impeachment, afirmando que a irresponsabilidade na gestão do país merecia atenção.

Após a destituição de Dilma e a prisão de Lula, Collor alterou sua orientação ideológica para se aliar a Jair Bolsonaro. Sua candidatura ao cargo de governador de Alagoas em 2022, durante a qual se destacou ao lado de Bolsonaro, não trouxe sucesso. Em sua busca por relevância política, ele reapareceu em eventos em Brasília e participou na campanha de seu sobrinho para a câmara municipal de Maceió, sem êxito significativo.

Aos 75 anos, muitos questionavam se Collor teria que enfrentar a Justiça, mas ela finalmente o alcançou, atingindo uma marca negativa na história política do Brasil. Desde a redemocratização, sete presidentes ocuparam o cargo, e três deles enfrentaram prisão, todos vinculados à Lava-Jato. As condenações de Lula e Michel Temer marcaram a linha do tempo, mas Fernando Collor tornou-se o primeiro ex-presidente condenado em última instância e preso. A história política do Brasil apresenta um panorama preocupante, pois a possibilidade de novos réus, como Jair Bolsonaro, continua.

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