A inteligência artificial (IA) está sendo impulsionada por empresas emergentes, mas isso não significa que as empresas tradicionais, ligadas à chamada “velha economia”, estejam alheias a essa evolução. Na Europa, um conjunto de quatro companhias do setor industrial está registrando uma alta significativa em seus valores de mercado, resultado da implementação da infraestrutura necessária para a revolução prometida pela IA.
Desde o lançamento do ChatGPT em novembro de 2022, empresas como Schneider Electric, Siemens, ABB e Legrand observaram um aumento combinado de € 151 bilhões (aproximadamente R$ 970 bilhões) em seus valores de mercado, conforme indicado por um levantamento recente. Esse crescimento se dá na perspectiva de investidores que reconhecem que, apesar da visibilidade da IA estar nas empresas responsáveis pelo desenvolvimento de linguagens avançadas, a tecnologia não avança sem os produtos fabricados por essas companhias há várias décadas.
Essas indústrias europeias produzem uma ampla gama de componentes, incluindo interruptores e medidores inteligentes, que são essenciais para os data centers e para os equipamentos elétricos necessários para alimentar os servidores que suportam os modelos de IA. Os data centers se tornaram uma fonte de receita promissora para esses grupos, impulsionados não apenas pelo crescimento da IA, mas também pelo aumento na demanda por serviços de computação em nuvem, que são utilizados em jogos e streaming.
Na Schneider Electric, por exemplo, os data centers representaram 24% das encomendas da empresa no ano anterior, um crescimento em relação aos 19% observados em 2022. Este aumento contribuiu para que a avaliação da empresa chegasse a € 127,9 bilhões em 2024, superando a da petroleira TotalEnergies. Atualmente, a Schneider Electric se destaca como a única companhia, fora do setor de moda e cosméticos, entre as cinco mais valiosas da França.
Um movimento similar é notado na Legrand, outra empresa francesa que fabrica materiais elétricos. As encomendas de data centers responderam por cerca de 20% das vendas da empresa no último ano, totalizando € 8,6 bilhões. Este número representa o dobro do registrado em 2019 e, segundo o diretor financeiro da Legrand, Franck Lemery, pode chegar a 25% até 2030.
Para acompanhar o crescimento da demanda impulsionada pela IA, essas companhias estão investindo em suas operações, embora não na mesma intensidade que gigantes como Meta e Microsoft. Estão sendo feitas aquisições para ampliar a oferta de produtos. A Schneider Electric, por exemplo, adquiriu 75% da Motivair, uma empresa focada em sistemas de resfriamento para data centers, por US$ 850 milhões. A Legrand, por sua vez, completou dez aquisições no ano anterior, sendo seis delas voltadas para soluções para data centers.
Embora se espere que a IA continue a crescer e a influenciar positivamente os resultados financeiros, essas empresas também enfrentam volatilidades associadas a esse setor, bem como questões de geopolítica. A ABB, cujas encomendas de operadores de data centers corresponderam a 15% dos pedidos da sua unidade de eletrificação, que totalizaram US$ 16,4 bilhões em 2024, viu suas ações flutuar após a divulgação de que a Microsoft havia cancelado alguns contratos relacionados a data centers.
Para a Siemens, a unidade de negócios de data centers registrou um aumento de 45% na receita no primeiro semestre do ano fiscal, que se encerrou em março, totalizando € 1,3 bilhão. No entanto, a empresa alertou que uma pausa nas encomendas de um grande cliente resultará em uma redução de 16% nas encomendas de certos produtos elétricos.
Além disso, as tarifas de importação impostas pelo governo dos Estados Unidos, durante a administração de Donald Trump, também impactam essas empresas, uma vez que muitos de seus produtos são destinados ao mercado americano. Em maio, foi anunciada uma tarifa de 50% sobre produtos da União Europeia (UE), com sua implementação inicialmente programada para junho, mas adiada para julho.