2 abril 2025
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Como Minha Barba Branca se Tornou Meu Estilo Pessoal

Fora da televisão desde 2019, Sérgio Chapelin faz caminhadas diárias pelo calçadão de Copacabana sem ser reconhecido. Aos 83 anos, ele ganhou destaque nas redes sociais após sua participação no Fantástico, onde deu um depoimento sobre Léo Batista, apresentando um visual bem diferente: com barba branca e cabelo preso. No entanto, sua voz permanece inconfundível. Atualmente, o locutor que deixou sua marca na bancada do Jornal Nacional e à frente do Globo Repórter afirma que está desfrutando de uma vida tranquila como “velhinho”, ao lado da esposa Regina Ghiaroni, promotora aposentada. Em 2021, o casal mudou-se do interior de Minas Gerais para o Rio de Janeiro, buscando proximidade com filhos e netos.

Como tem sido a sua vida de aposentado, longe da televisão?
A minha rotina mudou bastante em um curto espaço de tempo. Desde 1974, eu tinha uma propriedade no Sul de Minas, onde morei até 2019, mas repentinamente me desfiz de tudo. Vendi o sítio em Itanhandu e hoje moro em Copacabana, que é o paraíso dos mais velhos. Sou um idoso que passeia pelo calçadão sem atrair atenção, o que achei maravilhoso.

Sua aparição no Fantástico com barba branca e cabelo preso é um disfarce?
A minha barba branca e o boné que uso fazem parte do meu disfarce. Quero fazer compras em mercados e padarias sem ser notado. Copacabana é bastante movimentada, e prefiro ser apenas mais um na massa.

Por que você prefere não ser reconhecido?
É muito bom poder desfrutar de privacidade. No passado, as pessoas me paravam para tirar fotos, e agora, com todo mundo com celular, isso seria uma loucura.

Na época em que trabalhava na TV, não tinha sossego?
Graças a Deus, as manifestações das pessoas eram sempre carinhosas. Porém, com a atual polarização, fico pensando em como os meus colegas estão lidando com a situação.

Seus cabelos mudaram, mas a voz…
Minha esposa sempre me diz para não falar muito! É verdade, quando eu falo, as pessoas olham e reconhecem: ah, você é aquele repórter!

O seu visual mais relaxado se deve ao fato de estar cansado de se preocupar em estar sempre bem na TV?
Não, meu primeiro terno fiz aos 13 anos para a formatura do meu irmão mais velho em Rio Preto. Nós morávamos em Valença, e para mim era tranquilo usar paletó e gravata. Também aprendi a me vestir de forma confortável para a roça. Agora, falo com você de shorts e regata, passei por todas as etapas da vida com naturalidade. A vida continua.

Como é sua rotina diária?
É bem simples. Caminho todos os dias na praia enquanto minha esposa fatia de canoa havaiana no Posto 6. Escolhemos viver em Copacabana porque Regina considera essa a praia mais bonita do mundo. Depois de caminhar, gosto de pesquisar no iPad. À noite, assisto a um filme ou série. Atualmento, estou acompanhando uma série policial sueca chamada “A grande descoberta”. E é isso, estou plenamente satisfeito. Já trabalhei bastante.

Você assistiu ao filme “Ainda estou aqui”?
Sim, assisti. É um filme necessário e que não é propagandístico. Falo para os meus netos que a ditadura foi uma coisa séria. Trabalhei na Rádio JB em um período em que havia censores ao meu lado no estúdio. Eu precisava passar o texto para eles, e só depois que eles aprovassem eu poderia ler as notícias. Não podia vacilar, pois as consequências eram graves.

Você se considera uma pessoa de esquerda?
Minha trajetória sempre me colocou ao lado da classe trabalhadora. Venho de uma família humilde. Meus pais nunca tiveram uma casa própria e não herdei nada. Nunca fui militante, mas sempre me identifiquei com a esquerda. Votei nas duas primeiras vezes no Lula, depois não votei em nenhum dos lados. Estou esperando um candidato.

Você cuida da sua voz, que permanece em ótimo estado?
Não tenho um cuidado especial! Agora, de vez em quando, tomo um vinho ou um whisky. Mas no passado, tinha muita preocupação. Em caso de uma simples gripe, era um drama, pois eu precisava preservar minha voz e a minha imagem como apresentador. Hoje, isso já não é uma preocupação.

O jornalismo na televisão mudou consideravelmente?
Hoje, eu seria reprovado. Os jornalistas contemporâneos têm mais liberdade para improvisar, mas precisam ter uma formação e informações bem sólidas. Passei a minha vida lendo textos. Hoje em dia, o jornalista de TV precisa ser versátil, o que sempre admirei no trabalho de Léo Batista.

Mas você é um ícone do jornalismo.
Acredito que isso se deve a dois fatores. Eu nunca tive aquela voz marcante de locutor como Cid Moreira, com quem trabalhei e que era um talento raro. Eu fui um dos primeiros jovens de cabelos longos da televisão, com uma voz bem definida que conquistei ao longo dos anos no rádio. Além disso, sempre coloquei muito respeito no texto que lia, a ponto de receber elogios de Eduardo Coutinho, cineasta. Gravei muito de seu conteúdo no Globo Repórter e ele me disse uma vez que, mesmo ouvindo meu trabalho, achava que não era um texto seu. Nunca me arrisquei a ler um texto sem me preparar bem para que o público compreendesse as informações com clareza.

Parece que você está envelhecendo com bom humor e qualidade de vida.
Procuro valorizar isso. Tenho uma esposa maravilhosa, que me apoia em tudo, e já estamos juntos há mais de 50 anos. Recentemente, fomos fotografados de mãos dadas no Shopping da Gávea, onde assistimos ao último filme do Almodóvar. Tenho três filhos, um deles é meu enteado e, ao todo, são seis netos. Eu e Regina temos um relacionamento sólido e isso nos ajuda a enfrentar os desafios da vida.

Você sabia que sua aparição no Fantástico viralizou e gerou saudade nas pessoas?
Não, isso realmente me surpreende. Mas talvez eles decidam me chamar de volta, mas não tenho interesse, muito obrigado!

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