Em um cenário de instabilidade financeira, a companhia aérea Azul apresentou um prejuízo líquido ajustado de R$ 1,05 bilhão em 2024. Para enfrentar essa crise, a empresa opta por transformar parte de sua dívida em participação acionária. O fundador da companhia, David Neeleman, confirmou que investirá recursos para sustentar sua participação atual na empresa, que corresponde a 4%.
Neeleman, juntamente com outros acionistas controladores, planeja injetar entre US$ 10 milhões e US$ 20 milhões para incrementar o capital da Azul, sendo que aproximadamente dois terços deste montante serão provenientes do próprio Neeleman, o que pode totalizar até US$ 13 milhões. Entretanto, essa cifra não será suficiente para aliviar as finanças da companhia, que encerrou 2024 com uma dívida de R$ 30,4 bilhões. Este aporte é considerado “simbólico” e parte de uma estratégia para evitar a diluição de suas ações.
A companhia explicou que, com as conversões dos papéis, os credores poderão assumir cerca de 80% da empresa, enquanto 11,5% ficará reservado para gestores e acionistas preferenciais. Dessa forma, Neeleman, que continuará como presidente do conselho, conseguirá manter sua participação de 4%.
A operação de aporte do fundador foi publicada como um sinal de confiança na Azul. O diretor financeiro da empresa, Alexandre Wagner Malfitani, afirmou que os controladores estão dispostos a investir por acreditarem no futuro da Azul e considerarem isso uma boa oportunidade. Ele também destacou que essa ação vai contribuir para a redução da dívida da empresa.
A reestruturação da Azul inclui a redução do número de membros do Conselho, que passará de 13 para 9. Dois dos novos membros serão representantes dos credores, evidenciando a influência que os investidores terão na gestão da companhia. A implementação dessas mudanças está prevista para o final de abril.
Em relação ao desempenho financeiro, a Azul reportou um prejuízo não ajustado de R$ 8,2 bilhões em 2024, comparado a R$ 700,3 milhões em 2023. O CEO, John Rodgerson, declarou que a necessidade de alavancar a empresa durante a pandemia resultou em elevados gastos financeiros, sem suporte governamental, e que a companhia está atualmente se livrando de mais de US$ 100 milhões em juros anuais.
Malfitani ressaltou que, apesar do prejuízo, um dado importante do balanço de 2024 é o Ebitda de R$ 6 bilhões. O objetivo é crescer para R$ 7,4 bilhões em 2025, o que representaria um avanço significativo. Espera-se que parte desse crescimento derive de iniciativas para redução de custos e estratégias para aumentar os preços dos produtos oferecidos.
As expectativas de melhora nos resultados financeiros estão ligadas ao quarto trimestre de 2024, que trouxe um lucro líquido ajustado de R$ 62,4 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 270,6 milhões registrado no mesmo período de 2023. A Azul está adotando medidas para cortar custos operacionais antes da fusão com a Gol, que está prevista para ocorrer somente em 2026, dependendo da aprovação dos órgãos reguladores.
Rodgerson mencionou os profundos desafios enfrentados pela companhia e afirmou que a prioridade em 2025 será totalmente voltada para a Azul. Para cortar despesas, a empresa já anunciou a suspensão de voos para 14 cidades, incluindo Campos (RJ) e Sobral (CE), com início em março. Também foi comunicada a operação de voos para Fernando de Noronha apenas a partir de Recife.
Atualmente, a Azul oferece 150 destinos, o que representa um incremento de 50 cidades em comparação aos seus concorrentes. A desvalorização cambial afetou a demanda em determinadas localidades, não acompanhando a receita necessária. O foco da empresa permanece na otimização de custos, buscando alinhamento entre todos os colaboradores nesse objetivo.
Por fim, nos últimos 12 meses, as ações da Azul na B3 apresentaram uma desvalorização de 67,7%, resultando em uma avaliação total em torno de R$ 1,26 bilhão.