Em meio à forte ofensiva do governo dos Estados Unidos para deportar imigrantes, a comunidade brasileira no país busca alternativas para contornar as operações de detenção em massa. Uma das soluções encontradas, conforme relatos, é o uso do aplicativo Padlet para compartilhar informações sobre os locais onde há ações da polícia de imigração.
Por meio de uma página chamada Chismosas Sightings no Padlet, os usuários conseguem visualizar um mapa dos EUA com pontos marcando onde agentes do ICE (Serviço de Imigração e Fiscalização de Alfândega) realizaram abordagens a indivíduos considerados imigrantes irregulares. Esse espaço, administrado por um grupo anônimo denominado People Over Papers, permite edições por parte de qualquer pessoa e o link começou a ser compartilhado em comunidades de brasileiros nos Estados Unidos.
O mapa das operações de imigração não é apenas uma ferramenta útil, mas também reflete o clima de medo generalizado que tomou conta dos imigrantes nas últimas semanas, influenciado pela postura rigorosa do presidente Donald Trump em relação à imigração ilegal. Mesmo que os decretos de deportação do presidente se concentrem em imigrantes sem vistos regulares ou com antecedentes criminais, na prática essa segmentação não se concretiza. Há diversos relatos na mídia americana de cidadãos americanos e possessores de green cards sendo abordados de forma violenta pelos agentes do ICE.
“O ambiente entre os brasileiros é marcado por medo e apreensão, com muitos temendo sair de casa e não retornar”, comenta um advogado especialista em imigração que atende a população brasileira nos EUA. Segundo ele, existem relatos de indivíduos sem antecedentes criminais sendo abordados apenas por falarem português em público. “Em diversas situações, o ICE realiza operações em busca de um alvo específico e acaba detendo qualquer pessoa que julgue suspeita, o que eles chamam de ‘prisão colateral’, prática essa que é ilegal”, explica o advogado.
Com as operações do ICE ocorrendo em várias partes dos EUA, os imigrantes se veem na necessidade de tomar precauções para evitar a detenção e deportação. Uma das principais recomendações é que mantenham consigo documentos oficiais que comprovem sua permanência legal no país.
Para aqueles que não possuem autorização permanente, a apresentação de um comprovante de solicitação de visto em andamento pode ser relevante. Mesmo indivíduos que já enfrentam um processo de deportação podem evitar a prisão imediata caso apresentem uma notificação judicial que comprove a existência de uma audiência agendada. Outra recomendação feita por especialistas é permanecer calmo durante as abordagens do ICE e lembrar que se possui o direito de permanecer em silêncio. “Independentemente de possíveis irregularidades, se os agentes não têm evidências concretas, a pessoa não deve ser detida naquele instante e não é obrigada a se incriminar”, esclarece o advogado.
Desde que Donald Trump assumiu a presidência, pelo menos 88 brasileiros considerados irregulares foram deportados. Na chegada do voo com deportados ao Brasil, os passageiros foram vistos desembarcando algemados, uma situação que gerou grande revolta entre as autoridades brasileiras.
Apesar de expressar algumas críticas ao governo americano, o Brasil evita um confronto com a administração Trump. Na sequência das deportações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou uma reunião com seus ministros para discutir a situação dos brasileiros nos EUA, mas sem chegar a uma conclusão. O ministro da Justiça manifestou sua desaprovação em relação ao que classificou como “constrangimentos inadmissíveis” sofridos pelos deportados, mas ressaltou que o Brasil não pretende provocar os Estados Unidos com críticas severas. O Ministério das Relações Exteriores também chamou o novo chefe da embaixada americana no Brasil para conversas privadas, sem divulgação de um pronunciamento oficial após a reunião.