O Boletim Focus, publicado pelo Banco Central (BC) nesta segunda-feira (27), revelou que as previsões dos analistas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2025 passaram para 5,5%, em comparação a 5,08% na semana anterior. Especialistas consultados destacam que a elevação das expectativas para a inflação brasileira é resultado da “ressaca” causada pelos números preliminares de preços em janeiro, além do aumento nos custos dos alimentos e das oscilações no câmbio. Em janeiro de 2025, o IPCA-15 registrou uma alta de 0,11%, impactado pela pressão dos preços alimentares, conforme informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A projeção com base em uma pesquisa da Reuters indicava uma queda de 0,03% para o mesmo período.
A partir de 2025, o Banco Central tem como meta uma inflação de 3%, com uma faixa de tolerância de 1,5 ponto para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%). No ano de 2024, o IPCA encerraram com um crescimento de 4,83%, também impulsionado pelos aumentos nos preços dos alimentos. Gustavo Trotta, especialista da Valor Investimentos, comenta que as projeções para a inflação de 2025 refletem o impacto das prévias de janeiro. “Trata-se de uma previsão considerada elevada, fortemente influenciada pelos resultados superiores ao esperado do IPCA-15. O setor de serviços se destaca nessa nova avaliação, uma vez que é um núcleo que exclui fatores sazonais de consumo”.
André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), acredita que a alta nos preços dos alimentos é consequência da pressão gerada pelo aumento das exportações, que, por sua vez, é impulsionado pela valorização do dólar. “Quando a nossa moeda se desvaloriza, a impressão que se tem é que tudo no Brasil fica mais barato, o que resulta em um aumento nas exportações. Isso é positivo para a balança comercial, mas cria um desafio suplementar para a inflação”. O valor do dólar começou a subir em novembro de 2024 e permaneceu predominantemente acima de R$ 6. Contudo, essa tendência perdeu força nas últimas sessões, com a moeda norte-americana fechando a semana passada a R$ 5,91, com uma queda acumulada de 2,4%.
Braz esclarece que, ao beneficiar o mercado externo, o preço dos produtos no Brasil aumenta devido ao desabastecimento gerado pelo “ganho” cambial dos produtores. Flavio Serrano, economista-chefe do banco BMG, ressalta que o aumento nos preços dos alimentos também “afeta” o setor de serviços, alimentando as expectativas de uma inflação em alta. “Os custos com alimentação impactam o orçamento das famílias, o que leva a um aumento nos preços dos serviços, para compensar a perda do poder aquisitivo. Esse é um efeito que terá repercussão em toda a cadeia”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu com seus ministros na última semana para discutir soluções para a alta dos preços dos alimentos. Como parte das iniciativas, o governo está considerando a redução das alíquotas de importação de produtos que estejam mais caros no mercado interno do que no exterior, conforme informação do ministro da Casa Civil, Rui Costa. O ministro Carlos Fávaro declarou que Lula requisitou aos ministérios da Agricultura e do Desenvolvimento Agrário que elaborem um novo Plano Safra para fomentar a produção agropecuária. Além disso, o governo visa modernizar a produção dos pequenos agricultores como forma de estimular a produção do setor.
Na quarta-feira (29), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central irá anunciar a primeira decisão sobre a taxa de juros deste ano. As expectativas do mercado apontam para uma manutenção do aumento de 1 ponto percentual, elevando a taxa Selic para 13,25% ao ano. Na reunião de dezembro do ano passado, o Copom já havia aumentado os juros em 1 ponto percentual, atingindo 12,25%. Naquele comunicado, o comitê sinalizou novos aumentos de 1 ponto percentual nas duas reuniões seguintes. A expectativa dos agentes financeiros para a taxa de juros até o final de 2025 se manteve em 15%, o que é a mesma previsão das últimas três semanas, segundo o Boletim Focus. Para o próximo ano, as expectativas subiram para 12,5%, em comparação a 12,25% na semana anterior.