Pouco antes da leitura da sentença, Marine Le Pen, que ocupa a liderança da extrema-direita na França, deixou rapidamente o Tribunal Penal de Paris, onde enfrentava julgamento há nove semanas. Sua intuição estava correta; em 31 de outubro, ela foi considerada culpada de ser a mente por trás de um esquema de desvio de verbas públicas e tornou-se inelegível por cinco anos, o que a impede de participar das eleições presidenciais de 2027. Esta decisão alterou significativamente a dinâmica da corrida eleitoral, uma vez que Le Pen liderava as intenções de voto, com 37%, margem considerável em relação a outros candidatos. Após o veredicto, Le Pen alegou “perseguição” e anunciou que lutará até o último recurso judicial, afirmando que não permitirá sua exclusão do jogo político.
A condenação influenciou suas aspirações políticas, pois 2027 marcaria sua quarta tentativa de se tornar presidente. Entretanto, teve um impacto colateral no Reagrupamento Nacional (RN), exacerbando o radicalismo dentro do partido. Protestos foram organizados para o final de semana e uma petição com o objetivo de “salvar a democracia francesa” acumulara 300.000 assinaturas, em meio a críticas ao que consideram um “exagero judicial” por parte de governos de direita na Itália, Espanha, Hungria e Holanda. Recentemente, Jair Bolsonaro também fez afirmações semelhantes, alegando que a esquerda busca eliminar adversários por meio da Justiça. Jordan Bardella, que foi colocado na liderança do RN por Le Pen, mencionou uma “ditadura dos juízes”, ressoando com a narrativa de Donald Trump sobre uma “caça às bruxas”. Especialistas indicam que a sentença pode fortalecer o discurso de vitimização e alimentar a retórica populista, sugerindo que “apenas o povo manda”.
O caso contra Le Pen concentrou-se no uso impróprio de recursos do Parlamento Europeu, destinados exclusivamente a despesas parlamentares. Durante seu mandato como eurodeputada de 2004 a 2016, Le Pen desvirtuou esses fundos para beneficiar financeiramente o RN. Outros oito eurodeputados e doze assessores também foram condenados pelo desvio de 4,1 milhões de euros. Além da inelegibilidade, Le Pen recebeu uma multa de 100.000 euros. Uma pena de prisão de quatro anos, com dois anos suspensos, aguarda recurso para sua execução.
O RN não estava preparado para este revés. Bardella, que se destaca como o terceiro político mais popular da França e renovou a imagem do partido, é considerado um Plano B frágeis. Analistas observam que a expectativa inicial era que ele se tornasse primeiro-ministro, não presidente. Sua inexperiência, combinada à imagem controversa de Le Pen, pode prejudicar o partido nas próximas eleições. Contudo, a narrativa de perseguição pode revitalizar a extrema-direita, especialmente em um cenário onde o governo centrista de Macron enfrenta desafios de popularidade, impacto que pode se refletir em qualquer candidato que receber seu apoio. Assim, a política francesa, que antes apresentava maior previsibilidade, se encaminha para um cenário de intensa volatilidade emocional.
