No início de março, uma reunião não agendada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva revelou uma crise interna até então oculta dentro do Partido dos Trabalhadores. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, convocou Lula e membros da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) para um encontro em sua residência em Brasília, onde fez críticas diretas a Edinho Silva, que é ex-prefeito de Araraquara, integrante da CNB e candidato preferido de Lula para liderar o partido na próxima eleição interna em julho. Durante a reunião, os participantes expressaram que Edinho não dispunha de apoio suficiente e que, se fosse candidato, enfrentaria uma derrota. Lula ficou surpreso com essa revelação e, após o vazamento do encontro, ações foram tomadas para conter a crise interna dentro da legenda. A expectativa era que a situação se acalmasse, mas, um mês depois, a divisão se intensificou, com Edinho não conseguindo coesão dentro do partido e enfrentando o surgimento de outros candidatos, Rui Falcão e Washington Quaquá, dispostos a desafiá-lo.
A disputa interna do partido é impulsionada por diferentes visões e interesses. A divergência entre Edinho Silva e Rui Falcão, ambos figuras proeminentes dentro do PT, ilustra essas tensões. Edinho, que já ocupou a função de ministro da Secom durante o governo de Dilma Rousseff, é um aliado próximo de Lula e representa uma abordagem moderada. Desde o anúncio de sua candidatura, Edinho acumulou o respaldo de membros influentes, como Lula e outros ex-ministros. Sua campanha tem enfatizado a necessidade de uma “organização de base” que conecte o partido à realidade das pessoas, defendendo a construção de uma aliança ampla para as eleições de 2026. Em um evento recente, ele expressou a intenção de obter uma vitória significativa nas próximas eleições, buscando conquistar a confiança da população brasileira.
No dia 14, Rui Falcão, um dos concorrentes de Edinho, adotou uma postura distinta e crítica em relação à moderação. Durante um evento no Sindicato dos Engenheiros, ele enfatizou a importância de reafirmar os princípios históricos do PT, que incluem a luta por uma sociedade socialista. Falcão, que já ocupou a presidência do partido em momentos críticos, criticou a busca por alianças centristas e defendeu um retorno às raízes do PT. Ele foi acompanhado por figuras de destaque do partido, incluindo José Genoino, um veterano petista. As mensagens de apoio a Falcão destacaram sua trajetória enquanto líder e sua resistência durante períodos desafiadores. Apesar de suas críticas ao governo, ele acredita que as diferenças dentro do partido podem ser utilizadas como uma oportunidade para construir algo mais robusto em vez de fragmentar a legenda.
Além da rivalidade entre Edinho e Rui, Washington Quaquá, prefeito de Maricá (RJ), emergiu como um terceiro candidato que representa uma preocupação adicional para Edinho, já que pertence à mesma corrente interna. Quaquá anunciou sua candidatura, assegurando que tem apoio significativo dentro do partido e questionou publicamente o suposto apoio que Edinho receberia de Lula. Ele sugere um caminho intermediário entre as visões de Edinho e Falcão, visando ampliar as alianças, inclusive com partidos que estão mais ao centro do espectro político. A tensão atual dentro do partido levou a uma série de alegações sérias entre os grupos rivais, incluindo contestação de filiações realizadas antes da eleição, com dirigentes questionando a legitimidade de várias adesões que consideram irregulares.
A crise pela sucessão interna do PT pode representar uma oportunidade para reavaliar o rumo do partido, que foi fundado em 1980. Pesquisas recentes indicam que a popularidade de Lula tem diminuído, especialmente entre grupos que historicamente o apoiaram, como nordestinos e mulheres. A inquietação com a liderança do partido se agrava com dados que mostram um aumento na desaprovação a Lula entre os jovens. À medida que se aproxima a eleição interna, militantes do partido estão buscando um consenso, uma vez que uma imagem de divisão pode prejudicar a capacidade do PT de atuar como um líder em uma frente ampla em 2026. O cenário atual é complicado, com movimentações intensas por parte de partidos à direita, que se preparam para a próxima disputa eleitoral. A rivalidade interna entre as facções do PT está se desenrolando em um momento crítico para o partido e para o governo.