Um mês após a interrupção da ajuda humanitária à Faixa de Gaza, organizações de assistência relatam que a situação humanitária se tornou crítica. A condição de dois milhões de civis na região piorou devido às intensas operações militares israelenses. De acordo com as Nações Unidas e várias ONGs, bem como relatos de civis em Gaza, a fome está se alastrando, o acesso à água potável diminuiu e campos improvisados para deslocados estão infestados de pulgas. A nova ofensiva militar israelense, iniciada em março, exacerbou os problemas que já afetavam a população local nos últimos 18 meses.
O governo de Israel cortou o fornecimento de alimentos e outras formas de ajuda humanitária antes do início da ofensiva, com o objetivo de pressionar o Hamas a libertar reféns e estabelecer novas condições para a prorrogação do cessar-fogo. Israel alega que o Hamas desvia carregamentos de ajuda humanitária, uma acusação endossada pelos Estados Unidos em maio. Nos últimos 15 dias, mais de 280 mil pessoas foram forçadas a deixar suas casas, e atualmente, dois terços do território de Gaza são considerados áreas proibidas, conforme informações do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
O porta-voz do município de Gaza informou que, após as novas ordens de retirada, a população está sendo deslocada para diversas áreas, incluindo estradas principais e parques públicos. Antes mesmo das recentes instruções, apenas 40% da cidade tinha acesso à água. Estima-se que cerca de 175 mil toneladas de lixo acumulam-se pela cidade. Um alto funcionário do OCHA comentou que uma “guerra sem limites” está em andamento em Gaza, levando à insegurança alimentar e à desnutrição da população.
Um relatório recente do OCHA indica que Gaza enfrenta um risco crescente de fome e desnutrição, com o bloqueio total de carga, em vigor há quase dois meses, comprometendo a distribuição de farinha e o funcionamento das padarias. O Programa Mundial de Alimentos (WFP) anunciou que todas as padarias subsidiadas em Gaza fecharam devido à falta de gás e farinha. Embora ainda sejam distribuídas refeições quentes, os suprimentos disponíveis devem se esgotar em um prazo de duas semanas. A agência israelense responsável pelas entregas de ajuda alega a necessidade de um monitoramento estruturado para garantir que a assistência chegue à população civil e não seja desviada.
A Coordenadora de Atividades Governamentais nos Territórios, COGAT, afirmou que está desenvolvendo um novo mecanismo para assegurar que a ajuda humanitária chegue de forma adequada e que as operações sejam realizadas de maneira neutra. Este novo sistema de monitoramento deverá ser implementado mediante um acordo de cessar-fogo ou uma mudança nas diretrizes governamentais. O WFP indica que cerca de 89 mil toneladas de alimentos estão esperando para entrar em Gaza, enquanto os preços de alimentos aumentam desenfreadamente.
Além disso, a OCHA relata que o acesso à água permanece severamente restrito, com duas em cada três famílias em Gaza sem acesso a seis litros diários de água potável. Após melhorias no fornecimento durante um recente cessar-fogo, agências de assistência enfrentam dificuldades para reparar a infraestrutura necessária. O saneamento nas áreas lotadas de deslocados continua alarmante, com locais improvisados enfrentando infestações graves.
A administração dos Estados Unidos, sob a liderança de Biden, pressionou o governo israelense a permitir maior fluxo de ajuda humanitária, mas essa pressão diminuiu durante a administração anterior. O Conselho Norueguês para Refugiados mencionou que mais de um milhão de pessoas necessitam urgentemente de abrigo, mas a organização está com recursos extremamente limitados para atender a essa demanda. Muitas dessas pessoas estão sendo forçadas a permanecer em edifícios já danificados, resultando em incidentes frequentes de colapsos.
Conforme o conflito se intensifica, uma média de 100 crianças estão sendo mortas ou feridas diariamente em Gaza, de acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). A diretora-executiva da UNICEF afirmou que as crianças estão sendo novamente mergulhadas em um ciclo de violência e privação. A agência e seus parceiros têm enfrentado dificuldades para fornecer roupas e itens essenciais para as crianças deslocadas, que muitas vezes não possuem mais do que as roupas que estão usando.
Os hospitais em Gaza estão sobrecarregados com o aumento de vítimas desde o recrudescimento dos ataques israelenses. O Hospital Al-Shifa, por exemplo, está atendendo diariamente um número quase triplo de pacientes em comparação ao que era registrado antes das hostilidades. Médicos relatam dificuldades em lidar com a quantidade de corpos e feridos, sendo forçados a priorizar atendimentos devido à falta de recursos adequados. A escassez continua a impactar a capacidade dos hospitais de atender eficientemente a população ferida.
Conforme a situação se agrava, o chefe da Agência de Obras e Socorro da ONU alertou que a fome, o caos e a desordem estão se intensificando, resultando em um desespero crescente entre a população, que vive confinada em uma área muito pequena.