Reunidos no Cairo, líderes dos países da Liga Árabe manifestaram apoio à unificação dos palestinos sob a liderança da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), excluindo o Hamas. O Egito apresentou um projeto de reconstrução da Faixa de Gaza, orçado em 53 bilhões de dólares, que visa um retorno da Autoridade Palestina ao território, em contraposição ao plano do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que propunha a transferência de população palestina para o Egito e a Jordânia.
O plano aprovado pelos líderes árabes inclui a criação de um fundo para financiar a recuperação da Faixa de Gaza, que sofreu devastação significativa em resultado do conflito entre Israel e o Hamas ao longo de 15 meses. No entanto, a proposta enfrenta resistência por parte de Israel, que rejeita qualquer papel da Autoridade Palestina na região e mantém firme seu objetivo de eliminar o Hamas. O presidente egípcio, Abdel Fattah al Sissi, destacou que a iniciativa se destina a assegurar que os 2,4 milhões de cidadãos da Faixa de Gaza permaneçam em suas terras, contrastando com a proposta americana.
Sissi não criticou abertamente a abordagem dos EUA e afirmou que Trump “é capaz de conseguir a paz” na região. Durante a reunião, os líderes enfatizaram que quaisquer tentativas de deslocar o povo palestino ou de anexar territórios ocupados poderiam resultar em novos conflitos, o que seria uma ameaça à paz no Oriente Médio. O Hamas, por sua vez, assumiu o controle da Faixa de Gaza em 2007, quando afastou a Autoridade Palestina.
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, declarou que a OLP assumirá a responsabilidade pela administração da Faixa de Gaza e informou que um comitê de trabalho foi estabelecido para esse propósito. Abbas também manifestou intenção de organizar eleições nos Territórios Palestinos durante o próximo ano, sob condições adequadas. O Hamas formalizou sua aceitação do plano árabe, aceitando a formação do comitê para administrar o território.
A resposta de Israel ao plano árabe foi de crítica, alegando que ele não reconhece as realidades atuais e questionando a eficácia da Autoridade Palestina e da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA). Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores de Israel ressaltou casos anteriores de corrupção e apoio ao terrorismo por parte dessas instituições.
A primeira fase do projeto egípcio, prevista para seis meses, focará na remoção de escombros, minas e explosivos, além da construção de habitações temporárias para mais de 1,5 milhão de pessoas. As fases seguintes incluirão o desenvolvimento de infraestrutura básica e habitações permanentes, além da construção de um porto comercial e um aeroporto. O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou apoio ao plano árabe durante a reunião.
A cúpula da Liga Árabe ocorreu em um contexto de impasse nas negociações entre o Hamas e Israel relacionadas ao cessar-fogo iniciado em 19 de janeiro. A primeira fase dessa trégua teve fim no último fim de semana. Para avançar para a segunda fase, Israel exigiu a desmilitarização total de Gaza, a saída do Hamas do território e a devolução de reféns capturados durante os ataques de 7 de outubro de 2023. O Hamas imediatamente rejeitou essas exigências, enquanto Israel anunciou a suspensão da entrada de produtos e suprimentos na região.
Um dos líderes do Hamas, Sami Abu Zuhri, reafirmou que a questão das armas do grupo é uma “linha vermelha” e que qualquer discussão sobre a deportação de seus membros ou do povo palestino seria inaceitável. O ataque de 7 de outubro resultou em 1.218 mortes no lado israelense, a maioria de civis, de acordo com dados oficiais. Em contrapartida, a resposta militar israelense resultou em pelo menos 48.397 mortes em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas, informações que são consideradas confiáveis pela ONU.