Havia uma grande expectativa em relação ao desfile da grife Victoria’s Secret, que ocorreu no ano passado em Nova York, simbolizando o retorno da marca após cinco anos fora do circuito fashion. A grife enfrentou uma grave crise financeira e problemas de imagem, resultantes de sua abordagem estética, que era criticada por ser excessivamente sexualizada e por não refletir a diversidade contemporânea. No entanto, o desfile foi bem recebido, com a presença de modelos de diferentes perfis, incluindo mulheres acima dos 50 anos, negras, trans e com corpos curvilíneos. Destaque para a modelo plus size Ashley Graham, que desfilou usando uma lingerie preta coberta por uma capa.
A reinvenção da Victoria’s Secret é vista como um sinal de mudança positiva na indústria da moda. Entretanto, a ascensão do conservadorismo em outras esferas da sociedade, como a política, levanta preocupações quanto a um possível retrocesso. Observou-se um retorno à valorização de corpos magros e esqueléticos, sugerindo uma rejeição aos corpos diversos que foram celebrados anteriormente.
Dados recentes de um relatório de inclusão, publicado pela revista Vogue, revelam uma tendência preocupante. Em uma análise de 8.703 looks de 198 desfiles, constatou-se que apenas 2% das modelos eram de tamanho médio, enquanto apenas 0,3% eram plus size, número que tem diminuído ao longo dos anos. Além disso, apenas 16% das grifes incluíram mulheres curvilíneas nas suas apresentações, indicando um retrocesso na representação de diferentes tipos de corpo.
Marcas que antes eram elogiadas por sua inclusão, como a Nina Ricci, têm mostrado uma diminuição na diversidade de tamanhos. A Givenchy, sob a direção criativa de Sarah Burton, expressou a intenção de celebrar a diversidade, mas nos desfiles recentes isso não se refletiu, com apenas uma modelo fora do padrão convencional. Grifes como Miu Miu, Valentino e Gucci têm apresentado silhuetas que remetem a um padrão de beleza antigo, com foco em características magras.
Além disso, a adoção de medicamentos para emagrecimento, como o Ozempic, é apontada como um fator que contribui para o retorno da preferência por modelos magras. Alguns profissionais da moda sugerem que essa situação tem um impacto negativo na representação de corpos diversos, tornando ainda mais difícil encontrar modelos plus size nas passarelas.
Historicamente, houve épocas em que a estética valorizava corpos curvilíneos, como durante a Renascença e no início do século XX, em que a saúde e a prosperidade eram simbolizadas por esses tipos de corpo. Com o tempo, a percepção da beleza mudou, especialmente com a ascensão de modelos como Twiggy e Kate Moss, que promoveram novos padrões de beleza que excluíam a diversidade.
A mudança de comportamento na moda é necessária para promover a inclusão e refletir a realidade social. O retrocesso atual prejudica principalmente as jovens que se inspiram na moda para moldar suas autoimagem e aspirações. Embora algumas marcas argumentem sobre a dificuldade em acomodar modelos de diferentes tamanhos, essa justificativa é vista como insatisfatória, dada a necessidade crescente de inclusão e representação na indústria.