27 março 2025
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Custo Anual do Transporte de Cargas Atinge R$ 1,3 Trilhão e Revela Crise Logística no Brasil

Um estudo recente do Tribunal de Contas da União (TCU) indica que um dos principais desafios enfrentados pelo setor de infraestrutura no Brasil é o custo logístico associado ao transporte de cargas. Em 2022, os gastos com esse transporte totalizaram R$ 1,3 trilhão, equivalente a 13% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. Embora essa conclusão não seja nova, os dados apresentados revelam um investimento insuficiente em infraestrutura de transportes, a ausência de diretrizes estratégicas no planejamento logístico e os significativos prejuízos à economia nacional.

O Brasil investe menos da metade da média global em sua infraestrutura de transportes, o que resulta em custos elevados para o transporte de cargas. Este componente é crucial nos sistemas logísticos das empresas, contabilizando em média 64% de todos os custos logísticos. Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) em 2022 também destacou que o frete representa, em média, 15% do preço final dos produtos na indústria.

O relatório do TCU ressalta uma contradição no planejamento logístico brasileiro: enquanto o transporte de commodities para exportação recebe atenção significativa, o transporte doméstico, que responde por 67% da carga movimentada no país, enfrenta sérias deficiências. Este transporte é predominantemente rodoviário, o que acarreta custos elevados, uma frota envelhecida, estradas em mau estado, maior emissão de poluentes e riscos crescentes de acidentes.

O estudo também aponta a falta de diretrizes estratégicas e a escassez de dados claros sobre o setor. Não existem diagnósticos consolidados que identifiquem os principais gargalos logísticos ou que orientem políticas públicas eficazes. Como resultado, projetos são desenvolvidos sem a consideração adequada dos corredores logísticos intermodais. Mesmo com um foco nas exportações usando o modal ferroviário—que apresenta fretes mais baixos—o sistema logístico nessa área se encontra obsoleto e subutilizado.

Os dados do TCU demonstram que mais da metade da malha ferroviária do Brasil está sem uso ou operando com um tráfego extremamente reduzido. De acordo com o relatório, 36,3% das ferrovias não registram tráfego algum, enquanto 22,76% transportam menos de dois trens por dia. Apenas 12,66% da malha ferroviária apresenta alta utilização.

Esse estudo do TCU conclui que o sistema de transporte brasileiro encarece a produção. Especialistas notam que há dois problemas significativos relacionados aos modais ferroviário e rodoviário. O primeiro diz respeito ao método de licitação das ferrovias, que apresenta questões problemáticas. A licitação ferroviária, muitas vezes, favorece monopólios, já que grande parte da malha é utilizada pela Vale para o transporte de minério. Além disso, existe uma percepção errônea no Brasil de que o modal rodoviário é mais econômico, desconsiderando que o transporte ferroviário exige investimentos pesados em infraestrutura e equipamentos.

A impressão de que o transporte rodoviário é mais acessível ignora a capacidade de carga superior que as ferrovias podem oferecer, com a diferença de custo sendo transferida para a sociedade como um todo. O incentivo ao transporte rodoviário acaba por desestimular o ferroviário, refletindo a falta de planejamento e investimento em toda a cadeia.

Uma recente situação em Porto Velho, Rondônia, exemplifica a ineficiência logística do país. Na última semana, o porto local recebeu uma quantidade recorde de soja do Centro-Oeste, mas a limitação no armazenamento de grãos, outro gargalo logístico, levou ao rápido envio das cargas em caminhões. Com uma fila de cerca de 1.500 caminhões esperando para embarcar a soja, a capacidade do porto de Porto Velho—que é de 10 mil toneladas por dia, equivalente a 200 caminhões—não foi suficiente para atender à demanda, aumentando o custo para os produtores.

A necessidade de uma revisão na cadeia logística, desde o armazenamento até a exportação, é premente, já que até mesmo o agronegócio—um dos setores mais produtivos da economia brasileira—está perdendo competitividade devido a falhas logísticas. Um estudo do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, publicado em 2023, comparou o custo logístico de exportação de soja entre Brasil e Estados Unidos. Os custos de transporte dos EUA foram em média cerca de 15% do preço de produção, enquanto no Brasil, este valor atingiu cerca de 25%. Assim, apesar de a soja brasileira apresentar um custo de produção mais baixo, a ineficiência no transporte resulta em perda de competitividade.

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