Sempre que Jair Bolsonaro solicitou apoio nas ruas, a população respondeu de forma maciça. Isso foi evidente em datas significativas, como no 7 de setembro de 2021, quando cercou o STF; durante motociatas, em momentos que a elite o abandonou durante a pandemia de COVID-19; e em fevereiro do ano passado, ao reunir mais de 200 mil pessoas na Avenida Paulista, mesmo após planejar solicitar asilo na embaixada da Hungria. No entanto, o evento mais recente, realizado na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, não obteve o mesmo êxito.
Bolsonaro manifestou insatisfação com a baixa adesão ao seu discurso, e um assessor alegou que milhares de pessoas estavam acompanhando o evento por meio do YouTube. É necessário esclarecer que a fraca presença no protesto é um indicativo da vulnerabilidade do ex-presidente, especialmente considerando que ele enfrenta um processo no STF que pode resultar em mais de trinta anos de prisão ainda este ano.
Estimativas confiáveis indicam que entre 18 mil e 30 mil pessoas participaram do protesto, um número que representa cerca de um terço do que foi registrado em eventos anteriores. Durante a semana anterior ao protesto, Bolsonaro convocou seus apoiadores por meio de um vídeo nas redes sociais, se reuniu com líderes do Centrão e anunciou apoio em busca de aprovar a anistia no Congresso. Também insistiu na presença do governador Tarcísio de Freitas, que compareceu ao evento vestindo o uniforme número 2 da seleção brasileira, como uma forma de demonstrar seu alinhamento com Bolsonaro.
Entretanto, a baixa adesão ao evento não significa que Bolsonaro tenha perdido a liderança como figura principal da oposição, mas sugere que ele está se distanciando das preocupações reais da população. Oficialmente, o ato tinha como foco a solicitação de anistia para os atos de vandalismo que ocorreram em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023, mas o verdadeiro interesse de Bolsonaro parece ser sua própria segurança diante da possibilidade de prisão.
A solicitação de anistia é uma preocupação exclusiva daqueles que temem as consequências de ações golpistas. A população, por outro lado, está mais preocupada com questões econômicas, como a alta contínua do custo de vida e a inflação, que impactam a popularidade do governo. Esses fatores ressaltam a possibilidade de uma oposição mais forte nas eleições de 2026.
Bolsonaro busca transformar as eleições de 2026 em um plebiscito sobre sua possível condenação pelo STF. Se obtiver sucesso nesse intento, isso provavelmente facilitará a reeleição de Lula. Embora Bolsonaro permaneça uma figura popular, também é amplamente contestado. Caso decida transferir sua candidatura para um de seus filhos, as chances de vitória da oposição podem aumentar ainda mais. A narrativa eleitoral deve se concentrar nas desilusões com o governo Lula, em vez do temor sobre a prisão de Bolsonaro.