sexta-feira, janeiro 31, 2025
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Da floresta às comunidades: chocolate brasileiro transforma vidas e lucros

Com a crescente popularidade dos produtos à base de plantas, uma marca brasileira de chocolates se destacou por combinar práticas sustentáveis e por apoiar pequenos agricultores da cadeia produtiva do cacau, um componente chave da economia nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. A empresa carioca Maré Chocolate, criada pelo casal Roberto e Maruska Maciel, rompe com as normas do mercado ao oferecer uma opção de chocolate que não incorpora leite ou qualquer ingrediente de origem animal. Em vez disso, a marca utiliza insumos completamente naturais e cacau que possui certificação, o que garante que está alinhado às boas práticas de produção. Além disso, a Maré promove a rastreabilidade em todas as fases da produção do cacau, desde a plantação até a colheita.

A ideia de criar o negócio surgiu após um imersivo aprendizado de Roberto na cadeia produtiva do cacau. Ele passou meses visitando diversas fazendas de produção e ficou impressionado com o impacto social positivo da cultura do cacau. “Eu entrei nesse universo em 2014 e pude perceber a enorme influência que essa cadeia tinha sobre a Mata Atlântica”, relata Roberto. O desejo de estar mais próximo desse setor levou Roberto a tentar empreender anteriormente com uma marca de chocolates sustentável. Embora essa tentativa anterior tenha sido encerrada, ela foi fundamental, trazendo aprendizados que influenciaram a jornada do novo empreendimento, que herdou as instalações da fábrica e uma boa rede de fornecedores. Ao lado de sua esposa, que também possui experiência na indústria da moda e já teve sua própria marca, Roberto fundou a Maré Chocolate em agosto de 2020.

Para Roberto, a essência da marca é “comercializar um chocolate que faz bem”, oferecendo vantagens tanto para os consumidores quanto para os produtores. “Nossos produtos são isentos de açúcar branco, glúten e aditivos. Sempre priorizamos a qualidade do produto final, de forma que possamos afirmar que estamos vendendo um alimento, não apenas um doce”, explica. A proposta sustentável da Maré Chocolate vai além de suas receitas; a marca busca também causar um impacto positivo sobre todos os envolvidos na produção do cacau. Isso ocorre porque cada etapa do cultivo do cacau utilizado é resultado de um amplo esforço para promover a regeneração florestal.

Na prática, isso quer dizer que a marca investe na restauração do bioma impactado por sua cadeia produtiva e apoia iniciativas de reflorestamento, o que facilita o que denomina “comércio justo”. “Hoje praticamente todo o bioma da Mata Atlântica já foi devastado. Ao apoiar a agricultura do cacau, que é uma das principais fontes de preservação da região, estamos contribuindo para a proteção da natureza e a sua regeneração. É um ciclo benéfico que reconhece a capacidade da natureza de se renovar”, afirma Roberto. No aspecto social, a marca visa impulsionar o desenvolvimento econômico por meio do fomento à agricultura familiar e local. Seu foco de produção está em Ilhéus, no Sul da Bahia, e mais recentemente, na Amazônia, onde adquire cacau de comunidades ribeirinhas. Desde sua fundação, a Maré Chocolate já beneficiou cerca de 20 famílias produtoras.

Manter a posição de empresa sustentável com produtos que respeitam o meio ambiente é um desafio considerável. Diante dos altos custos das matérias-primas, Roberto observa que todo o ciclo produtivo dos chocolates é oneroso, levando a Maré a direcionar seus esforços para um público específico. “Operamos com margens baixas, mas nos posicionamos como produtos de nicho”, diz ele. “Esperamos que, à medida que os consumidores reconheçam nossas qualidades, possamos expandir além do nicho. Essa é uma grande ambição”. A explicação para isso reside no modo como o cacau é comercializado. Uma parte significativa do cacau é vista como uma commodity, sendo vendida em larga escala sem levar em conta o trabalho minucioso de colheita e seleção dos grãos. Essa forma de comercialização não oferece remuneração justa aos trabalhadores que se dedicam tanto na seleção.

Por outro lado, o cacau selecionado, cuja qualidade é a base dos produtos da Maré, tem um custo de quatro a seis vezes maior. “Decidimos pagar um valor mais alto por esse cacau para reconhecer sua qualidade e oferecer uma remuneração justa aos agricultores”, comenta Roberto. O preço médio de venda dos chocolates da Maré é de R$ 30.

Atualmente, a Maré Chocolate é disponibilizada em empórios e armazéns em cidades como São Paulo, Florianópolis e Rio de Janeiro, além de contar com um e-commerce que atende todo o país. Com planos de crescimento, a marca carioca aspira a expandir sua atuação para novas regiões, mirando cidades como Curitiba, Ribeirão Preto, Fortaleza, Goiânia e Belo Horizonte. Além disso, há uma intenção de explorar exportações. “O mercado interno é vasto e tem muito potencial de crescimento, mas a logística no Brasil é complexa, especialmente devido ao calor, que representa um desafio para o chocolate. A questão tributária também é um obstáculo, então crescer no exterior pode ser uma estratégia viável para diversificar e reduzir riscos”, explica.

O e-commerce, que atualmente representa apenas 8% das vendas da empresa, também tem potencial para um desenvolvimento significativo. “Investir no online pode ser uma estratégia interessante para avançarmos. Precisamos de pessoas capacitadas, que conheçam as ferramentas corretas para acelerar nosso crescimento no digital”, acrescenta. Desde sua criação, a Maré Chocolate tem visto um aumento em sua receita, mesmo sem grandes investimentos em marketing ou recursos externos. Em 2023, a receita alcançou R$ 1,7 milhão, e a expectativa para o próximo ano é atingir R$ 2 milhões. Com a expansão para novas regiões e a possibilidade de atingir outras áreas do Brasil, como a Amazônia, a Maré Chocolate está aberta a receber investimentos para acelerar seu crescimento. “Estamos em busca de investidores. Até agora, conversamos com amigos e familiares, mas consideramos também opções como crowdfunding. Para nós, seria fundamental encontrar alguém que traga não apenas recursos, mas também conhecimento estratégico”, conclui.

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